quinta-feira, 7 de junho de 2012

O HOMEM QUE VIA O TREM PASSAR - Georges Simenon




Alguma vez você já sentiu vontade de sumir do mapa? De largar emprego, família, normas e convenções e simplesmente sair sem destino certo? Pois isso é justamente o que fez Kees Popinga, um “homem que via o trem passar” e que, um belo dia, embarcou nele. Literalmente.

Aos quarenta anos, Kees Popinga é um respeitável cidadão holandês. Dono de uma das melhores casas do bairro, conquistada através de anos de dedicado trabalho, é um homem dedicado à esposa e filhos.  Além do trabalho e da família, não tem muitas distrações: é um exímio jogador de xadrez e fuma charutos. Nunca se permitiu nenhuma atitude que poderia ser considerada inapropriada a um homem consciente de seus deveres. Sua outra pequena distração é observar e fantasiar os trens que passam, especialmente os noturnos, “que partem com as cortinas baixadas sobre o mistérios dos passageiros”. Quem são e para onde vão essas pessoas?

Uma noite irá mudar completamente sua existência. Seu patrão forja a própria morte para fugir do escândalo da falência, não sem antes revelar essa verdade a Popinga, que vê toda sua rotina prestes a ser alterada, afinal, ficará sem emprego, sem estabilidade financeira. E é assim que ele toma sua decisão. Também irá embora, pegando o trem para Paris. E assim começa sua aventura. Kees Popinga, que “sempre viu a vida como um pobre miserável que cola o nariz à vidraça de uma confeitaria e vê as pessoas comerem bolo”, decide fugir a qualquer regra ou convenção. Acabará se envolvendo num crime, será perseguido, conhecerá pessoas totalmente diferentes de sua pacata convivência.

O homem que via o trem passar é um romance intrigante, assim como seu personagem. Quem afinal é Kees Popinga? Insano? Ou tão normal quanto qualquer cidadão? Será essa nossa existência cheia de regras, uma coisa realmente normal? Reproduzo um trecho da apresentação do escritor João Paulo Cuenca, no começo do livro: “Ao contar a história da dissolução de um homem que ‘há quinze anos representava o papel de um bom holandês, seguro de si e da própria honorabilidade, da própria virtude e da primeira qualidade de tudo o que possuía’, Simenon cava fundo em tudo o que é humano, no trágico e no cômico da existência de cada um de nós, na ideia que fazemos de quem somos, na ideia que fazemos do mundo em que vivemos, e do que acreditamos que possuímos”.

Quem embarcar na viagem dessa leitura, certamente não irá se arrepender.

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