Alguma vez você já sentiu vontade
de sumir do mapa? De largar emprego, família, normas e convenções e
simplesmente sair sem destino certo? Pois isso é justamente o que fez Kees
Popinga, um “homem que via o trem passar” e que, um belo dia, embarcou nele. Literalmente.
Aos quarenta anos, Kees Popinga é
um respeitável cidadão holandês. Dono de uma das melhores casas do bairro,
conquistada através de anos de dedicado trabalho, é um homem dedicado à esposa
e filhos. Além do trabalho e da família,
não tem muitas distrações: é um exímio jogador de xadrez e fuma charutos. Nunca
se permitiu nenhuma atitude que poderia ser considerada inapropriada a um homem
consciente de seus deveres. Sua outra pequena distração é observar e fantasiar os
trens que passam, especialmente os noturnos, “que partem com as cortinas baixadas sobre o mistérios dos passageiros”.
Quem são e para onde vão essas pessoas?
Uma noite irá mudar completamente
sua existência. Seu patrão forja a própria morte para fugir do escândalo da
falência, não sem antes revelar essa verdade a Popinga, que vê toda sua rotina
prestes a ser alterada, afinal, ficará sem emprego, sem estabilidade financeira.
E é assim que ele toma sua decisão. Também irá embora, pegando o trem para Paris.
E assim começa sua aventura. Kees Popinga, que “sempre viu a vida como um pobre miserável que cola o nariz à vidraça de
uma confeitaria e vê as pessoas comerem bolo”, decide fugir a qualquer
regra ou convenção. Acabará se envolvendo num crime, será perseguido, conhecerá
pessoas totalmente diferentes de sua pacata convivência.
O homem que via o trem passar é
um romance intrigante, assim como seu personagem. Quem afinal é Kees Popinga?
Insano? Ou tão normal quanto qualquer cidadão? Será essa nossa existência cheia
de regras, uma coisa realmente normal? Reproduzo um trecho da apresentação do
escritor João Paulo Cuenca, no começo do livro: “Ao contar a história da dissolução de um homem que ‘há quinze anos
representava o papel de um bom holandês, seguro de si e da própria
honorabilidade, da própria virtude e da primeira qualidade de tudo o que
possuía’, Simenon cava fundo em tudo o que é humano, no trágico e no cômico da
existência de cada um de nós, na ideia que fazemos de quem somos, na ideia que
fazemos do mundo em que vivemos, e do que acreditamos que possuímos”.
Quem embarcar na viagem dessa
leitura, certamente não irá se arrepender.
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