quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PODERES TERRENOS – Anthony Burgess




Sob muitos aspectos, Anthony Burgess é o meu escritor favorito. A impressão que tenho é que ele poderia facilmente escrever o livro que quisesse, qualquer livro. Talvez por isso, tenha se dedicado a escrever livros que ninguém mais poderia escrever, a não ser ele.

Minha paixão por Burgess começou indiretamente, quando assisti pela primeira vez ao filme “Laranja Mecânica”, dirigido por Stanley Kubrick. O filme me deixou de boca aberta e babando. Corri atrás do livro que o havia inspirado, e é claro que o livro era ainda melhor! Burgess conseguiu construir uma história incrivelmente cínica sobre os chamados “tempos modernos” e, de quebra, inventou um delicioso dialeto que mistura russo e cockney (gíria da classe trabalhadora inglesa). Totalmente horrorshow, meus camaradas! Um verdadeiro alimento para a gúliver. Pretendo reler em breve.

Outros livros de Anthony Burgess que li:


AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO MUNDO – três histórias totalmente distintas sendo narradas em paralelo: a invenção da psicanálise por Freud, um musical na Broadway sobre Trotsky e a iminente destruição da Terra por um asteróide. Uma verdadeira ‘tour-de-force’ intelectual, absolutamente brilhante!

A SINFONIA NAPOLEÃO – audacioso experimento literário: traduzir em forma de romance a “Heróica”, Sinfonia Número 3 de Beethoven, dedicada e depois ‘desdedicada’ a Napoleão. Esquizofrenia genial e muito pouco indulgente com o leitor. Acredito ter sido fortemente inspirada pelo “Ulisses” de James Joyce. Ler esse livro foi uma experiência inigualável, a minha maior influência literária até hoje. Durante cerca de três meses, ouvi a “Heróica” no talo uma média de 16 vezes seguidas por dia (sério!). Só parei quando o vizinho, em um justificado ato de vingança, colocou para tocar no mais alto volume uma mesma música brega durante toda uma tarde de sábado.


A ÚLTIMA MISSÃO – debochada e bizarra história de espionagem, que gostaria de reler.


ENDERBY POR DENTRO – achei a história sem graça, um livro chato e insuportável. Isso da primeira vez. Ao reler, achei genial, engraçadíssima e inspiradora!

Mas a obra-prima de Burgess é, sem dúvida, “Poderes Terrenos”! Livraaaaaaaaaaaaaaaço!!!!


“Era a tarde do meu octogésimo primeiro aniversário e estava na cama com meu veado quando Ali anunciou a visita do arcebispo.”

Em minha opinião, essa é simplesmente a melhor frase de abertura da literatura mundial!!!

E assim somos apresentados a (frase da orelha do livro) “um dos personagens mais encantadores que a literatura inglesa já produziu”: Kenneth Marchal Toomey, escritor, octagenário, homossexual. Não necessariamente nessa ordem.

O motivo da visita do arcebispo: ele quer que Toomey escreva um depoimento sobre um suposto milagre que o escritor teria testemunhado há muitos anos. O objetivo desse texto seria ajudar no processo de canonização do papa recentemente falecido.

Toomey decide fazer isso à sua maneira, contando a história de sua longa vida e ao mesmo tempo a história do século XX. E assim somos arrebatados por uma aventura intelectual sem precedentes. Personalidades e fatos históricos misturam-se com a delirante imaginação de Burgess em um resultado de brilho incomparável.

Li agora pela segunda vez essas impressionantes 604 páginas. Esse livro fala sobre muitas coisas. Creio ter percebido, no virar da última página, as intenções primordiais da obra. O ato de escrever um livro como reflexo do ato original da criação do universo. Deus como Demiurgo. Os homens como personagens de um romance. A questão da liberdade. Tudo sempre contado com um irônico sorriso nos lábios.

Embora a leitura seja intensa e divertida, não é exatamente um livro fácil. Há uma profusão de frases nos mais diversos idiomas, e um senso de humor muito específico, que mistura rudes zombarias com citações eruditas. Não é para todos. Considero especialmente recomendável para escritores.  Um dos melhores livros que li na vida.


***///***
Aproveito para convidar você a conhecer o meu livro, O SINCRONICÍDIO:

Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI

Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/
 
LEIA AGORA (porque não existe outro momento):



Um comentário:

  1. Prezado Fábio, há alguma referência sobre a criação artística da capa de "A Sinfonia de Napoleão" (foto do post)? Encontrei uma concepção semelhante aqui: http://www.biblio.com/books/286149887.html

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