quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O REI DA VELA – Oswald de Andrade



Assisti essa peça pela primeira vez aos 16 anos, em uma montagem universitária no Teatro da UERJ. Foi meu primeiro contato real com o teatro. Que experiência mágica! Gostei tanto que voltei duas vezes mais, e arrastei todos os amigos que pude para assistir.

Abelardo I é o Rei da Vela, que ganha um tostão com a morte de cada brasileiro. Pois nenhum homem é tão miserável que não mereça ao menos um toco de vela entre os dedos mortos na hora da última partida. Para o Rei da Vela, só essa fortuna é pouco, por isso ele empresta a juros altíssimos para uma multidão de desesperados que é tratada na base do chicote por Abelardo II, assecla de Abelardo I.

Mas no fundo o Rei da Vela não passa de um cupincha do Americano Mr. Jones, que tem inclusive “direito de pernada” com a noiva Heloísa de Lesbos. A família de Heloísa é de origem nobre e falida, daí o casamento por interesse de ambas as partes.

É uma família e tanto, a de Heloísa. O pai, Coronel Belarmino, acredita firmemente que o banco hipotecário é a solução para o Brasil. A mãe, Dona Cesarina, cada vez resiste menos ao assédio descarado de seu futuro genro. Um dos irmãos de Heloísa chama-se Totó Fruta-do-Conde, e sua frase predileta é: “Sou uma fracassada!” O outro irmão, Perdigoto, é um facista encubado. E há também uma irmã, Joana, mais conhecida como João dos Divãs, e uma avó, Dona Poloquinha (não confundir com Polaquinha, que na época era sinônimo de prostituta).


Fora isso, seguindo a tradição de irreverência metalinguística de Oswald, há uma pequena porém marcante participação do Ponto, que era a pessoa que ficava escondida soprando as falas para os atores. Esse Oswald!!! Acho que foi em “Serafim Ponte Grande” que ele expulsou um personagem do livro por ter soltado um pum.

Isso tudo que eu escrevi é pouco mais que a enumeração dos personagens principais. Para saber o que é “O Rei da Vela”, só mesmo vendo a peça, lendo o livro.

“Espinafração” pura, explícita, ainda afiada mesmo depois de tanto tempo. Achei triste ainda achar engraçadas essas cenas escritas há mais de oitenta anos. Pois isso é sinal de que os tristes costumes que a peça castiga fazendo rir continuam existindo em nossos dias.

Uma curiosa revelação tive com essa leitura: creio que Nelson Rodrigues leu “O Rei da Vela”, bem antes de sua antológica estreia em 1967 (que acabou sendo um fator determinante na gestação do Tropicalismo). Afinal, a peça foi escrita em 1933 e publicada em 1937. Creio que Nelson, ao ler “O Rei da Vela”, soltou um ou dois grunhidos de satisfação.



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Aproveito para convidar você a conhecer o livro O SINCRONICÍDIO:

Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI

Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/
 
LEIA AGORA (porque não existe outro momento):



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