sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

MEDITAÇÕES – Descartes




Uma linda aventura do espírito humano! Um homem que eleva a sua consciência beneficia a humanidade inteira. Certamente essa foi uma das melhores leituras que fiz em 2011.

É extremamente improvável que René Descartes conhecesse a ciência da Yoga, o que torna a leitura de suas “Meditações” ainda mais impactante. Pois o método proposto pelo filósofo para alcançar a verdade não difere muito em sua essência da prática de meditação iogue:

“Fecharei agora os olhos, tamparei meus ouvidos, desviar-me-ei de todos os meus sentidos, apagarei mesmo de meu pensamento todas as imagens de coisas corporais, ou, ao menos, uma vez que mal se pode fazê-lo, reputá-las-ei como vãs e como falsas; e assim, entretendo-me apenas comigo mesmo e considerando o meu interior, empreenderei tornar-me pouco a pouco mais conhecido e mais familiar a mim mesmo.” (Meditação Terceira, parágrafo 1)

Ao exercitar a sua dúvida radical (que levou ao célebre “penso logo existo”), Descartes descreve um panorama que qualquer hindu identificaria imediatamente com o conceito de Maya, a Ilusão:

“Todavia, há muito que tenho no meu espírito certa opinião de que há um Deus que tudo pode e por quem fui criado e produzido tal como sou. Ora, quem me poderá assegurar que esse Deus não tenha feito com que não haja nenhuma terra, nenhum céu, nenhum corpo extenso, nenhuma figura, nenhuma grandeza, nenhum lugar e que, não obstante, eu tenha os sentimentos de todas essas coisas e que tudo isso não me pareça existir de maneira diferente daquela que eu vejo?” (Meditação Primeira, parágrafo 8)

Só pode ter noção da audaciosa aventura proposta por Descartes aquele que se dispuser a acompanhá-lo. Não é um mero jogo do intelecto, que pode ser feito com segurança em uma confortável poltrona, e sim uma apaixonada busca existencial, onde tudo é colocado em risco, para que o bem maior seja alcançado: a verdade.



Duas verdades essenciais

E o filósofo emerge de seu profundíssimo mergulho trazendo duas pérolas de valor inquestionável:

1) eu existo
2) Deus existe

Ouso afirmar que Descartes alcançou essas verdades não através do puro raciocínio, mas pela sutil intuição. Essa é uma opinião minha, pois em momento algum o filósofo fala de intuição. Mas tenho para mim que ele voltou de sua busca com essas duas certezas da mesma forma que o Iogue retorna de sua meditação carregando essas mesmas brilhantes certezas.

Sendo, porém, um filósofo e não um iogue, Descartes escreveu seu livro exercitando a razão em grau máximo, a fim de demonstrar inequivocamente o que seu coração sabia ser a transparente verdade: eu existo e Deus existe!

Essas razões e argumentos tão refinados fizeram o deleite dos eruditos ao longo dos séculos, uns defendendo e outros atacando, com maior ou menor habilidade. Mas esses intermináveis debates não apetecem aos sinceros e humildes buscadores da verdade, que contemplam em si mesmos o mesmo que contemplou Descartes.


Citações

“Sempre estimei que estas duas questões, de Deus e da alma, eram as principais entre as que devem ser demonstradas mais pelas razões da Filosofia que da Teologia: pois, embora nos seja suficiente, a nós outros que somos fiéis, acreditar pela fé que há um Deus e que a alma humana não morre com o corpo, certamente não parece possível poder jamais persuadir os infiéis de religião alguma, nem quase mesmo de qualquer virtude moral, se principalmente não se lhes provarem essas duas coisas pela razão natural.” (introdução)

“(...) tudo quanto se pode saber de Deus pode ser demonstrado por razões, as quais não é necessário buscar alhures que em nós mesmos, e as quais só nosso espírito é capaz de nos fornecer.” (introdução)

“Mas é possível também que eu seja algo mais do que imagino ser e que todas as perfeições que atribuo à natureza de um Deus estejam de algum modo em mim em potência, embora ainda não se produzam e não façam surgir suas ações.” (Meditação Terceira, parágrafo 28) – mais uma profunda intuição de Descartes que o aproxima da filosofia oriental!

“Pois, como a fé nos ensina que a soberana felicidade da outra vida não consiste senão nessa contemplação da Majestade divina, assim perceberemos, desde agora, que semelhante meditação, embora incomparavelmente menos perfeita, nos faz gozar do maior contentamento de que sejamos capazes de sentir nesta vida.” (Meditação Terceira, parágrafo 42)

“(...) concluo tão evidentemente a existência de Deus e que a minha depende inteiramente dele em todos os momentos de minha vida, que não penso que o espírito humano possa conceber algo com maior evidência e certeza.” (Meditação Quarta, parágrafo 2)

Viva Descartes!!!



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