segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

CAPOEIRA ANGOLA – Waldeloir Rego



Que obra estupenda! Um estudo colossal sobre a Capoeira, verdadeiro manancial de ensinamentos para todos que desejam se aprofundar nas origens, história e fundamentos dessa linda arte!

Como nada nesta vida acontece por acaso, esse livro foi um fiel e precioso companheiro durante um momento muito difícil, em que devido a dores no ciático fiquei impedido de frequentar as aulas de capoeira de Mestre Tyko Kamaleão na Casa da Música. Mais do que o ciático, doeu a alma, bem lá no fundo, ao ser privada tão bruscamente dessa gostosa brincadeira que a vinha libertando, “um milímetro por dia”, no sábio ensinamento de Mestre Tyko Kamaleão. Fiquei muito triste e revoltado a princípio, mas à medida em que fui compreendendo que a Capoeira estava trazendo para mim um novo aprendizado, fui deixando de me rebelar contra esse meu momento, fui passando a aceitá-lo como uma oportunidade e um desafio, e assim comecei o meu processo de cura. Que passou certamente pela leitura de “Capoeira Angola”. Eu não estava podendo gingar, mas nada me impedia de continuar aprendendo Capoeira!


O que mais chama a atenção nesse livro incrível é a profusão e minúcia dos conhecimentos transmitidos. Por exemplo, ao falar do período em que a Capoeira era combatida pela polícia (como contravenção prevista no código penal de 1890, sujeita a pena de prisão de três a seis meses, com agravantes) o professor Waldeloir conta a história da polícia no Brasil, desde a sua criação (os policiais eram chamados inicialmente de “quadrilheiros”, por estarem responsável por áreas urbanas divididas em “quadras”)! Ou então, ao analisar alguns corridos de capoeira, o autor examina a etimologia de cada uma das palavras utilizadas no canto, com abundância de citações em alemão e francês!

Essa minúcia possibilita um rico e profundo aprendizado sócio-etnográfico, que vai muito além da Capoeira. Por exemplo, gostei muito de aprender a origem da palavra “aquinderreis”, que surgiu de “acudam aqui d’el-Rei”, expressão do tempo do Brasil Colônia que era usada quando se estava sendo atacado por alguém e se precisava de ajuda armada (pois somente em nome do Rei era permitido portar armas). Na época em que o livro foi publicado (1968), esse termo já era muito pouco utilizado, apenas pelos capoeiristas anciões, que diziam “fulano gritou aquinderreis”, no sentido de que “fulano pediu socorro”. Pois hoje, em 2018, é provável que já nenhuma pessoa viva se utilize dessa expressão. Esse tipo de aprendizado emociona o escritor em mim, pois revela a nossa língua como uma entidade viva, em constante mudança e evolução.


Só para citar um dos ensinamentos diretamente ligados à Capoeira, com esse livro aprendi que a palavra “Berimbau” deriva de “boro ‘mbumba”, sendo que “boro” significa “falar” e “’mbumba” era uma espécie de receptáculo sagrado para o espírito dos antepassados. “Berimbau”, portanto, é o instrumento que nos permite “falar com os mortos”, ou seja, entrar em sintonia direta com a ancestralidade. Está explicado o arrepio de êxtase que todo capoeira sente ao som do gunga!

“Capoeira Angola” é uma obra irrepreensível, sob todos os aspectos. A tal ponto que, em determinado momento da leitura, comecei a alimentar a certeza de que o autor era negro (o que confirmei apenas agora, ao ver sua foto na Internet). Explico: a sensação que tive foi que o livro foi escrito antecipando e já se precavendo contra todo o tipo de ataque racista, por se tratar de obra acadêmica versando sobre cultura, religiosidade e tradições de matriz africana. O professor Waldeloir Rego me lembrou um pouco um de meus heróis, o cientista indiano Jagadish Chandra Bose (citado na “Autobiografia de um Iogue” de Paramahansa Yogananda e também em meu romance “O Sincronicídio”), que descobriu a vida secreta das plantas e dos metais, e que enfrentou com galhardia o racismo dos cientistas europeus, que não davam crédito aos seus estudos apenas devido à tonalidade de sua pele.


Pois então. Isso me motivou uma fecunda reflexão, bastante pertinente a nossos dias, quando forças retrógradas ganham ascensão no cenário nacional e mundial, e discursos racistas, machistas e homofóbicos são apoiados por boa parte da população. Esse livro me fez pensar que resistência é superação. Graças à luta contra o machismo, por exemplo, as mulheres provaram seu valor, tornando-se de modo geral mais eficazes que os homens em todos os campos. Assim como, graças à luta contra a escravidão, surgiu a arte da libertação, também chamada de Capoeira!

Gratidão a Mestre Tyko Kamaleão pelo empréstimo dessa obra magnífica e por me ensinar tanto, na roda e na vida! Viva meu mestre!

Livro disponível em PDF no link:


Sobre Waldeloir Rego:




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O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva
 “E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”
Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.
“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”
Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.
Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.
 
Livro físico:
https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva
 
eBook:
https://www.amazon.com.br/dp/B07CBJ9LLX?qid=1522951627&sr=1-1&ref=sr_1_1


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