terça-feira, 4 de junho de 2019

SENHORA – José de Alencar




Eu tinha onze anos de idade quando, junto com a querida amiga Eva Costa, fiz um cartão na biblioteca do bairro da Ribeira, em Salvador. Era um cartão só para nós dois, que dava direito a pegar dois livros a cada quinze dias. Então combinamos que cada um escolheria um livro para ler, e depois trocaríamos. Eu escolhi “O Caso dos Dez Negrinhos”, de Agatha Christie, que me deixou alguns dias sem dormir. Eva escolheu “O Guarani”, de José de Alencar, que gerou em mim uma grande paixão pela literatura brasileira, pelo que sou muito grato.

Nos três anos seguintes li muitos outros livros de José de Alencar: “Cinco Minutos”, “A Viuvinha”, “Ubirajara”, “Iracema”, “O Tronco do Ipê”, “Til”, “Lucíola” e “A Pata da Gazela”. Devo a essas leituras praticamente tudo o que sei de gramática!

“Senhora” foi um dos últimos que li desse autor, já aos quinze anos, como imposição escolar. Por essa época minha paixonite por José de Alencar já havia fenecido um pouco, por conta de outras leituras e descobertas. Ainda assim, gostei da leitura – fato raro dentre os livros que li na escola, com a ingrata obrigação de fazer uma prova depois.

E agora, depois de tanto tempo, retorno a esse autor tão querido de meu coração. Feliz reencontro! O que primeiro me encantou foi o lirismo da prosa de José de Alencar, mas logo em seguida fiquei capturado pela trama amorosa (mesmo já tendo lido o livro!), para minha própria surpresa! A turma que gosta de ler histórias de amor e ainda não conhece José de Alencar não faz ideia do que está perdendo!

Algo que me chamou a atenção nessa segunda leitura foi a carga erótica de algumas cenas, que passaram despercebidas de meu olhar adolescente. Pois é preciso contextualizar, ter em mente que a história foi publicada em 1875. Para os padrões da época, imagino que a cena que descreve Aurélia entrando no leito nupcial, por exemplo, deve ter deixado muitas moçoilas e mancebos com taquicardia... sobretudo pela cruel interrupção do clima erótico, em uma reviravolta que define a estrutura narrativa de “Senhora”.

Pois se o tema geral do livro é o do chamado “casamento de conveniência”, a estrutura narrativa segue uma técnica arriscada, que poucas vezes vi sendo posta em prática com bons resultados (e nunca tão bem quanto em “Senhora”): algo que chamei de “técnica do coitus interruptus”, e que consiste na frustração da expectativa de alívio dramático, por meio de seguidas reviravoltas, até a resolução final do grande e catártico clímax. Isso sim é que eu chamo de Literatura Hot!



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