sábado, 7 de setembro de 2019

BAHIA DE IAIÁ E DE IOIÔ: Crônicas de um Tempo que Passou – Giraldo Balthazar da Silveira



O professor Giraldo Balthazar da Silveira, nascido em Salvador no ano de 1886, foi um atento observador dos usos e costumes de sua terra. Muito estimado por seus alunos, a pedido deles começou a escrever um relato sobre a Bahia de sua infância, desse “tempo que passou”. Contudo a morte o levou antes que pudesse concluir o trabalho. Ainda assim, graças ao carinho e dedicação dos antigos alunos, as crônicas que escreveu foram reunidas em um singelo volume, acompanhadas por belas ilustrações.

Minha motivação principal ao ler esse livro foi encontrar relatos de expressões antigas, já não usadas na Bahia de hoje. Fui recompensado, especialmente na narrativa sobre os ritos fúnebres, quando tomei conhecimento do “banguê”, que era um carro funerário utilizado pelos muito pobres, que transportava os defuntos do hospital Santa Izabel para o cemitério, acompanhado pela cantiga inclemente do povo:

“Nêgo gêge quando morre,
Vai à tumba de banguê
E os parentes vão dizendo:
Urubu tem o que comê!”

Outro trecho delicioso trata de tipos populares como o “Macaco Beleza” (será que influenciou Raulzito a conceber o seu “Maluco Beleza”?). Há uma parte que descreve a discussão entre o figuraça Professor Gusmão e o poeta Manoel Tolentino, que o desacatou com essa quadra:

“A onça, bicho feroz,
Que tudo come ou devora
Pegou professor Gusmão
Mastigou, mastigou... e jogou fora!

Uma sensação estranha tive nessa leitura, ao deparar com trechos como:

“O carnaval era a festa preferida pelo povo baiano...”

Ou:

“A capoeira sempre gozou do maior prestígio e fama, na Bahia; era realizada ao som de berimbaus, pandeiros e outros instrumentos primitivos...”

Foi muito esquisito ler essas narrativas “de um tempo que passou” referindo-se a situações que ainda são atuais como se já fizessem parte de um passado remoto e esquecido. Tirei dessa estranheza uma oportuna e grata reflexão sobre como tudo nessa vida é fugaz e passageiro, como “um sonho dentro de um sonho”... O que pode servir de consolo, diante de um presente muitas vezes tão medonho: “Isso também vai passar”.

“Hoc opus, hic labor est”: “Esse é o trabalho, essa é a fadiga”.

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