sábado, 15 de fevereiro de 2020

AS PALAVRAS OCULTAS – Bahá’u’lláh



Bahá’u’lláh foi o nome adotado pelo iraniano Mírzá Husayn-'Alí (1817-1892) ao proclamar ser o Mensageiro Divino anunciado nas profecias e ao fundar a Fé Bahá'í. “As Palavras Ocultas”, escrito em 1858, foi descrito pelo autor como contendo os versos revelados a Fátima, filha do fundador do Islã Maomé, pelo Espírito Santo personificado no Arcanjo Gabriel.

O livro é dividido em duas partes, Árabe (com 71 versos) e Persa (82 versos), dentre os quais reproduzo o verso 44 do Persa, que me marcou especialmente:

“Ó COMPANHEIRO DE MEU TRONO!
Nenhum mal deves tu ouvir, nem ver; não te rebaixes, nem suspires, nem chores. Nenhum mal deves falar, para que não o ouças falado a ti; nem aumentes as faltas alheias, a fim de que as tuas próprias não se afigurem grandes. Não desejes a humilhação de ninguém, para que não se torne evidente a tua própria humilhação. Vive, pois, os dias de tua vida, os quais são menos de um momento fugaz, mantendo sem mancha a tua mente, imaculado teu coração, puros teus pensamentos e santificada tua natureza, de modo que, livre e contente, possas abandonar essa forma mortal, recolher-te ao paraíso místico e habitar, para todo o sempre, no reino eterno.”

Tais ensinamentos, como praticamente tudo o que li nessa bela obra, poderiam perfeitamente ter sido pronunciados (com pequenas diferenças de linguagem) por Jesus, Krishna ou Buda. É muito reconfortante e inspirador confirmar, vez após outra, que todas as religiões foram fundadas sobre as mesmas verdades essenciais. Perceber a unidade fundamental por trás das diferenças superficiais é trilhar de fato o caminho ensinado pelos grandes mestres. Toda briga em nome de Deus nasce apenas da cegueira do ego, e só pode conduzir ao sofrimento e à ignorância.

Essa percepção de que todas as religiões falam do mesmo e único Deus, cada uma a seu modo, deveria ser como um farol a guiar o caminho na interpretação das escrituras de todas as religiões. Confio que será assim que as pessoas estudarão os textos sagrados, em um futuro não muito distante. Essa abordagem plural pode nos livrar de grandes perigos.

Por exemplo, se consideramos o Verso 45 (e os dois seguintes) da parte Árabe, sem fazer uma referência cruzada a outras escrituras, podemos ser levados a interpretações radicalmente opostas:

“Ó FILHO DO SER!
Busca a morte de mártir em Minha senda, satisfeito com Meu prazer e grato por aquilo que Eu ordeno, para que Comigo possas repousar, sob o dossel da majestade, atrás do tabernáculo da glória.”

Uma interpretação literal desse verso pode levar a grandes erros. Contudo consideremos uma famosa fala de Jesus: “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará.” (Lucas 9:24, e também Mateus 16:25 e Marcos 8:35). Aí teremos condições de interpretar sob nova e auspiciosa luz o conceito do Jihad, a “Guerra Santa”, que deveria ser travada no interior de cada homem (exatamente como a guerra descrita no Mahabharata hindu), entre seu lado egóico e seu lado divino. E não, de modo algum, uma guerra entre “fiéis e infiéis”. Seria um Deus muito pequeno alguém que desejasse que os homens se matassem (ou mesmo se ofendessem) em Seu nome.

Detalhe: por grande sincronicidade, li esse livro logo após assistir à excelente série “Messiah” (https://www.netflix.com/br/title/80117557) no Netflix.



\\\***///


MANIFESTO – Mensageiros do Vento
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

Um experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590

2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...