quinta-feira, 27 de maio de 2021

NEWTON – Os Pensadores

 


Foi uma aventura e tanto ler esse livro, que eu precisava encarar para cumprir a decisão que tomei há tantos anos de ler todos os volumes da Coleção Os Pensadores. Antes de iniciar a leitura, fiz uma espécie de preparação espiritual, perguntando a mim mesmo em que as obras de Sir Isaac Newton poderiam somar em minha vida hoje. Ou, colocando em outras palavras, o que eu esperava ganhar com essa leitura? Foi muito bom ter feito essa pergunta, pois isso me possibilitou mergulhar na leitura sem me deter nas extensas e minuciosas demonstrações matemáticas, que não só não me interessam como estão, certamente, muito além de meu alcance.

Logo de cara veio a percepção de que eu estava lendo esse livro no momento mais propício possível: em plena pandemia do coronavírus. Afinal, boa parte das contribuições de Newton para a história da ciência ocorreram no ano de 1666, quando a Grã-Bretanha estava assolada pela peste, impondo o isolamento social (engana-se, portanto, quem acredita que o isolamento é uma invenção comunista para controlar as pessoas!).

Esse volume é composto por trechos selecionados de três das principais obras de Newton. Na primeira e mais importante delas, “Princípios Matemáticos”, confesso que senti a emoção de um turista ao visitar um grande museu e ficar frente a frente com uma famosa obra de arte, no caso as célebres três leis de Newton:

“LEI I

Todo corpo permanece em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças impressas nele.”

“LEI II

A mudança do movimento é proporcional à força motriz impressa, e se faz segundo a linha reta pela qual se imprima essa força.”

“LEI III

A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro sempre são iguais e se dirigem a partes contrárias.”

Assim como essas definições de termos que na cultura pop estão indissoluvelmente ligados à figura de Isaac Newton debaixo da macieira:

Força é o princípio causal que produz o movimento e o repouso.”

Gravidade ou peso é uma força que existe em um corpo e que o impulsiona a ir para baixo.”



Boa parte do prazer que extraí da leitura, aliás, veio do vislumbre dessa grande aventura humana da ciência, que teve em Newton um de seus grandes paladinos. Separei dois trechos onde ele expressa de forma muito bela os princípios fundamentais da ciência que ele estava ajudando a moldar. No primeiro, Newton desenvolve um conceito já conhecido como o “Princípio de Ockam”, também chamado de “Navalha de Ockam”, datado do século XIV, segundo o qual devemos sempre buscar a explicação mais simples para os fenômenos:

“HIPÓTESE I

Não se hão de admitir mais causas das coisas naturais do que as que sejam verdadeiras e, ao mesmo tempo, bastem para explicar os fenômenos de tudo.”

No segundo ele formula com concisão e elegância alguns dos princípios norteadores da ciência a partir de então:

“Esta análise consiste em fazer experimentos e observações, e em traçar conclusões deles por indução, não se admitindo nenhuma objeção às conclusões, senão aquelas que são tomadas dos experimentos, ou certas outras verdades. (...) Este é o método de análise, e a síntese consiste em assumir as causas descobertas e estabelecidas como princípios, e por elas explicar os fenômenos que procedem delas, e provar as explicações.”

Um outro trecho me emocionou muito, onde creio que Newton teve uma intuição poderosa, que só seria adequadamente formulada séculos depois por outro grande ícone da ciência, Albert Einstein, em sua famosa fórmula E = m.c2:



Questão 30. Não são os corpos sólidos e a luz convertíveis entre si, e não podem os corpos receber muito de sua atividade das partículas de luz, que entram em sua composição?”

Contudo logo em seguida Newton parece ser desviado de sua intuição por conta de informações errôneas que na sua época eram tidas como fatos:

“Pois todos os corpos fixos, sendo aquecidos, emitem luz enquanto continuarem suficientemente quentes, e a luz reciprocamente para nos corpos assim que seus raios colidem com suas partes, como mostramos acima. Não conheço nenhum corpo menos apto a brilhar do que a água; e no entanto a água, por destilações frequentes, transforma-se em terra fixa, como o sr. Boyle verificou, e então essa terra, sendo capaz de suportar um calor suficiente, brilha devido ao calor, como outros corpos.”

Essa é a aventura da ciência! Assim caminha a construção do conhecimento! E também, é claro, através de muitos debates e contendas. Em “O Peso e o Equilíbrio dos Fluidos”, Newton questiona vários conceitos elaborados por René Descartes. Para mim, foi um verdadeiro UFC de Filosofia!

“(...) para que isso não seja tomado como sendo gratuitamente contra o que afirmam os seguidores de Descartes, procurarei refutar as suas ficções.”

“Se Descartes objetar a isto que a extensão não é infinita, mas antes indefinida, deve ele ser corrigido pelos gramáticos. (...) Entretanto, vejo qual é o temor de Descartes: receia ele que, se considerasse o espaço infinito, com isto mesmo este se transformaria em Deus, devido à perfeição da infinitude. Ora, isto de forma alguma acontece, pois a infinitude só constitui uma perfeição quando constitui um atributo de coisas perfeitas. A infinitude de inteligência, de poder, de felicidade etc. constitui o vértice da perfeição, ao passo que a infinitude da ignorância, da impotência, da miséria etc. constituem a mais alta imperfeição. Da mesma forma, a infinitude da extensão é perfeita na medida em que for perfeito aquilo que é extenso (o sujeito da extensão).”

E aqui, finalmente, chego ao principal aprendizado que tive com a leitura desse volume, a partir da constatação feita na introdução:

“Nos últimos vinte anos de sua vida, Newton não fez mais nenhuma contribuição significativa para a história das ciências. Dedicou-se a assuntos teológicos, chegando mesmo a considerá-los, na opinião de muitos historiadores, mais importantes do que a física e a matemática.”

Conforme atesta Marcelo Gleiser em seu excelente “A Dança do Universo” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/05/a-danca-do-universo-marcelo-gleiser.html), esses textos teológicos de Newton jamais chegaram a ser publicados. Acho isso muito estranho e também muito significativo, a respeito do pensamento científico vigente hoje em dia. Não vou me estender nesse assunto porque a resenha já está grande o suficiente, mas penso que talvez tivéssemos uma ciência menos nociva ao mundo, menos submissa a interesses escusos, se os cientistas tivessem a humildade de perceber que um cara que enxergou tão longe nos horizontes da ciência quanto Newton deveria ser ao menos levado em consideração quando fala de Deus. E é por isso que encerro essa resenha com algumas citações tiradas não dos textos teológicos (nunca publicados!), mas da magnum opus científica de um dos maiores pensadores que a humanidade conheceu:

“Este magnífico sistema do sol, planetas e cometas poderia somente proceder do conselho e domínio de um Ser inteligente e poderoso.”

“Esse Ser governa todas as coisas, não como a alma do mundo, mas como Senhor de tudo.”

“Ele é eterno e infinito, onipotente e onisciente; isto é, sua duração se estende da eternidade à eternidade; sua presença do infinito ao infinito; ele governa todas as coisas e conhece todas as coisas que são ou podem ser feitas. Ele não é eternidade e infinitude, mas eterno e infinito; ele não é duração ou espaço, mas ele dura e está presente. Ele dura para sempre e está presente em todos os lugares; e, por existir sempre e em todos os lugares, ele constitui a duração e o espaço.”

“Assim como um homem cego não tem ideia das cores, nós também não temos ideia da maneira pela qual o todo-sábio Deus percebe e entende todas as coisas. (...) Temos ideia de seus atributos, mas o que a substância real de qualquer coisa é nós não sabemos.”

“(...) um deus sem domínio, providência e causas finais não é nada além de Destino e Natureza. A necessidade metafísica cega, que certamente é a mesma sempre e em todos os lugares, não poderia produzir nenhuma variedade de coisas. Toda aquela diversidade das coisas naturais que encontramos adaptadas a tempos e lugares diferentes não se poderia originar de nada a não ser das ideias e vontade de um Ser necessariamente existente.”


 

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FAVELA GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:

https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica

 

Durante esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais luminoso e solidário.

 

O livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo das Trevas para a Luz.

 

A versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o PDF de todo o livro.

 

Fique à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.

 

Leia ou baixe todo o livro no link abaixo:

https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica

 

Link do livro no SKOOB:

https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858

 

Book trailer

https://youtu.be/FjoydccxJGA


 

Entrevista sobre o livro na FM Cultura

https://youtu.be/IuZBWIBYeHE



 

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