quinta-feira, 23 de setembro de 2021

O CERCO (EL ACOSO) – Alejo Carpentier


 

Cada livro que lemos é uma página na história de nossa própria vida. E os livros conversam entre si, sussurrando sonhos, segredos e promessas. Esses são os motes de um livro que venho compondo já há muitos meses, de forma lenta e metódica, colecionando sincronicidades entre as muitas leituras que compulsivamente faço.

E em nenhuma outra leitura encontrei sincronicidades tão gritantes quanto nas 90 páginas desse aflitivo romance de Alejo Carpentier. Vou citar apenas as duas primeiras, ambas presentes na frase de abertura de “O Cerco”:

“Sinfonia Eroica, composta per festeggiare il souvvenire di um grand’Uomo, e dedicata a Sua Alteza Serenissima il Principe di Lobkowitz, da Luigi Van Beethoven, op. 53, Nº III dele Sinfonie...”


Primeira sincronicidade: a frase está escrita em italiano, sendo que minha leitura imediatamente anterior foi justamente “La Verità su Bébé Donge”, edição italiana de um livro de Georges Simenon. Assim como é um pouco estranho um brasileiro ler a tradução italiana de um romance francês, igualmente inesperado é que a edição brasileira de um romance cubano inicie precisamente com uma frase em italiano!

Mas as coincidências estão só começando, pois a tal frase em italiano está falando da “Sinfonia Eroica”, a Sinfonia Nº 3 de Beethoven, que ele dedicou a Napoleão. Pois essa sinfonia, que para meu grande espanto permeia toda a trama de “O Cerco”, foi a trilha sonora de meu primeiro romance, “O Sincronicídio” (https://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA), para o qual justamente agora estou preparando uma versão digital, oito anos após o lançamento do livro físico. Preciso mencionar ainda o fantástico livro “A Sinfonia Napoleão”, de Anthony Burgess, que faz uma transposição literária da Terceira Sinfonia de Beethoven ao contar a vida de Napoleão, o que cria (em minha mente, ao menos) uma misteriosa conexão entre esses três livros, o de Carpentier, o de Burgess e o meu próprio.


 

Claro que o valor da leitura de “O Cerco” não se limita ao tanto de sincronicidades que encontrei. A narrativa é fragmentária, desafiando o leitor a ir juntando os pedaços na elucidação da trama. Um jogo literário delicioso, mas que periga fatigar mentes que só buscam na literatura uma fuga confortável para os rigores da realidade. Tanto que chega a ser comovente o apelo da Editora Global no prefácio, para que os leitores insistam na leitura, que vale a pena, assim como a afirmação de orgulho editorial ao publicar tal obra.

Publicado em 1956, “El Acoso” retrata de forma asfixiante a odisseia de um universitário cubano que ingressa no movimento revolucionário, comete crimes em nome da revolução, decepciona-se com seus ideais, é preso e torturado, entrega seus companheiros e então passa a fugir tanto da polícia quanto dos revolucionários. Não estou cometendo nenhum spoiler nesse resuminho, pois o deleite do livro está na forma como essa história é contada, com muita sutileza e estimulando a argúcia do leitor.

Foi uma leitura que por si só me impactou muito, e me fez renovar algumas convicções muito arraigadas, que de forma bem sucinta exponho aqui: o grande mal de nossa sociedade humana é ter a competição como valor supremo. O capitalismo é um modo de funcionamento da sociedade que nasce diretamente dessa crença de que precisamos competir todos contra todos, e que ser melhor que os outros é a única maneira de ser feliz nesse mundo. Em sua origem, a ideia do comunismo nasce como uma reação aos males do capitalismo e expressa a essência do pensamento cristão: “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo” (Lucas 3:11). Contudo, ao ser colocado na prática por mentes impregnadas do senso de competição, o comunismo acabou se tornando apenas uma versão negativada do capitalismo, com a mesmíssima exploração do homem pelo homem. Para construir uma sociedade mais digna e feliz, precisamos substituir o conceito de competição pela ideia de cooperação.

O assunto é complexo e segue de forma tão condensada porque eu precisava falar de tanta coisa rica nessa resenha de um livro tão fininho e tão poderoso! Que em determinado momento da leitura me fez pensar: “Rapaz, estou aprendendo e refletindo tanto com esse livro, em meio a tantas sincronicidades, que alguma mensagem importante vai chegar por meio dele.” Dez minutos depois, tive a epifania: aquele livro que eu estava compondo há tantos meses encontrou a ideia central que lhe faltava e tudo se encaixou em seus lugares certos. Agora é só botar no papel.



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 O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva

 “E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 
Livro físico:

https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva

 
Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA


 


 

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