domingo, 26 de setembro de 2021

CONTOS PREMIADOS 1 – William Abrahams (org.)

 


No primeiro andar do Mercado Municipal de Itapuã, no piso destinado ao artesanato, funciona um lindo espaço para doação e troca de livros, organizado com muito carinho pela querida Nélia. Para lá levei um ótimo livro que tinha acabado de ler, “Os Melhores Contos de O. Henry” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/08/os-melhores-contos-de-o-henry.html), onde aprendi que desde 1920 existe nos Estados Unidos o “O. Henry Award” um respeitado prêmio destinado a contos surpreendentes. Pois então, imagine a minha surpresa ao encontrar nessa mesma estante do Cantinho dos Livros justamente essa coletânea de contos vencedores do Prêmio O. Henry! Por conta dessa baita sincronicidade, percebi que devia ler esse livro, que levei para casa.

Tive muitas percepções durante a leitura, em sua maioria movidas pelo senso de estranhamento. Começando pela introdução do organizador da antologia:

“(...) os contos são dispostos numa ordem que tem a intenção de apresentá-los sob o melhor aspecto possível – especialmente, talvez, para aquele leitor mítico que lê, seguidamente, da primeira à última página.”

E pensar que cheguei até aqui sem jamais desconfiar que eu era um “leitor mítico”! Nessa mesma introdução, outro trecho só foi fazer sentido depois que li os contos do livro:

“O assim chamado conto ‘engenhoso’, manufaturado por encomenda e outrora sinônimo daquelas revistas, não é mais encontrado em toda parte, talvez porque os leitores que os consumiam estejam agora mais felizes com a versão da TV”.

Uma das características mais marcantes dos contos de O. Henry é o uso do que depois seria chamado de “plot twist”, com desfechos inesperados. E o Prêmio O. Henry foi criado com a intenção de celebrar especificamente esse tipo de inventividade. Contudo só lembro de um único conto dentre os dezoito da antologia que se destaca pelo “plot twist” (“No Deserto”, de Patrícia Zelver). Sinal do quanto os gostos e tendências vão mudando com o passar do tempo. Afinal, O. Henry fez muito sucesso no começo do século XX, enquanto esses “Contos Premiados” datam de 1970 e 1971.

Outro estranhamento foi causado pela própria estrutura do concurso, que analisava contos publicados em inúmeras revistas nos Estados Unidos. Por essa época aqui no Brasil também era comum ver contos publicados em revistas, e chegamos a ter a fabulosa revista “Ficção – histórias para o prazer da leitura”. O estranhamento tem um motivo óbvio: o que aconteceu com essas revistas que publicavam contos? Foram suplantadas pela TV e depois pela Internet? O seu desaparecimento sinaliza que as pessoas estão lendo menos revistas impressas, lendo menos contos ou simplesmente lendo menos?

Quanto à leitura dos “Contos Premiados”, achei todos bem escritos, mas mostrando bem como são produtos de seu espaço-tempo (Estados Unidos no início da década de 1970). Não reconheci nenhum dos nomes dos autores premiados. E achei a tradução bem burocrática, para não dizer desatenta, o que não ajudou na boa fruição das histórias. Ainda assim, guardei da leitura essas belas tiradas:

“Se não se importa de ser amado (...) como se incomodaria de ser um fardo?” (“A Vitória”, de Anne Tyler)

“Se não fosse grande, estava seguindo o caminho da grandeza, que é o mesmo que o do desastre”. (“A Destruição do Goetheano”, de James Salter)

“(...) se minha avó me estivesse vendo, se me chamasse com aquela voz de fundo de garrafa (todas as mulheres falavam assim com seus filhos?): O que está fazendo aí? O que está olhando?... sempre suspeitando de algo que pudesse me agradar e não a ela...” (“A Lagartixa”, de Elaine Gottlieb)

“Ele tem olhos avermelhados, juntas dos dedos peludas e quando toca a gente, suas mãos são destras e desdenhosas, como um açougueiro manuseando carne. Por que deve um homem tão carente de empatia tornar-se médico? Dinheiro, mais do que provável, e status.” (“Nas Florestas de Riga as Feras São Realmente Selvagens”, de Margery Finn Brown)


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– CURA POÉTICA 2 –

 

Inscrições abertas

Premiação de R$ 500,00 para o melhor poema

https://www.verlidelas.com/cura-poética-2

 

Organizada por Fabio Shiva e Sergio Carmach, esta antologia será a quarta da série “Delirium Liricus”, que compara cada poesia a uma pílula, classificando-as como remédios (quando mais otimistas), venenos (quando mais pessimistas) e placebos (quando feitas para divertir, encantar).

 

Sendo a poesia uma ótima forma de se curar feridas da alma, a antologia “Cura Poética 2” é mais uma oportunidade para os poetas extravasarem o que trazem dentro de si nessa longa época de incertezas em que vivemos. Componha sua poesia - seja ela um remédio, um veneno ou um placebo - e nos envie.

 

Confira o edital:

https://www.verlidelas.com/cura-poética-2

 

Teaser:

https://youtu.be/mJlL7Eqa__M


 



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