domingo, 19 de junho de 2011

Infiel por Ayaan Hirsi Ali


Infiel: A História de Uma Mulher Que Desafiou O Islã
Ayaan Hirsi Ali - 496 páginas - Companhia das Letras

Sinopse:

"Em novembro de 2004, o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino, que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava sua próxima vítima: Ayaan Hirsi Ali, que fizera ao lado de Theo o filme Submissão, sobre a situação da mulher muçulmana. E assim essa jovem exilada somali, eleita deputada do Parlamento holandês e conhecida na Holanda por sua luta pelos direitos da mulher muçulmana e suas críticas ao fundamentalismo islâmico, tornou-se famosa mundialmente. No ano seguinte, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes do mundo.


Como foi possível para uma mulher nascida em um dos países mais miseráveis e dilacerados da África chegar a essa notoriedade no Ocidente?


Em "Infiel", sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade, surras freqüentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura no crânio. É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente, era um importante opositor da ditadura de Siad Barré: a família fugiu para a Arábia Saudita, depois para a Etiópia, e finalmente se fixou no Quênia."



Minha resenha:
Li esse livro em 2010, e foi um livro muito dificil de se criar uma resenha. E tenho a certeza de que minha resenha não estará a altura do livro. Esse livro é mais impactante do que os livros que não conseguimos largar até terminá-los; é um dos raros livros em que você fecha a última página e não consegue parar de pensar sobre cada linha, cada palavra. Você pode guardá-lo na estante ou se desfazer dele mas ele ficará para sempre marcado na sua vida.

Tudo isso porque, é uma história verídica, não-ficção; é uma autobiografia sem a pretensão de demonstração de 'eu sou o máximo'. Mas Ayaan é mais que isso: é corajosa, inteligente, esperta, forte e além do mais, foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes da atualidade pela revista Times.
Eu sempre me interessei por Ciencias Sociais, sempre estive a par de como as pessoas sofrem no mundo. Eu sempre li sobre o preconceito, guerra, fome, machismo... mas eu nunca havia lido esses fatos pela narração de uma mulher que sofreu tudo isso (e muito mais) na pele. Eu estava acostumada a ler sobre culturas diferentes, mas nunca havia lido a vida, sentimentos pessoais e opiniões de alguém que viveu num mundo totalmente diferente, tão diferente que parece ficção, parece ser de um lugar bem longe da Terra ou parece ter ocorrido num passado bárbaro bem distante.

Ayaan nasceu na Somália e viveu em outros países como no Quênia e na Arábia Saudita. Ela sofreu a mutilação feminina aos 5 anos de idade, a sangue frio, apenas para ser 'purificada'. Ela tinha um irmão e uma irmã e seu irmão tinha sua masculinidade e violência totalmente provocados e aplaudidos pelos adultos, enquanto ela e sua irmã eram sempre reprimidas. Ela sofreu duros espancamentos durante a infância e adolescencia, não somente aplicada por parentes mas também pelo professores.

Ela foi muçulmana devota, totalmente voltada à submissão necessária e obrigatória da religião. Tentou com todas as suas forças acreditar nas palavras do profeta Maomé. Mas ela não conseguia entender o porquê das mulheres serem tão desvalorizadas, humilhadas, violentadas. Tudo totalmente defendido e apoiado pela religião que mistura-se completamente às leis dos países muçulmanos. Ela lia muito, e não compreendia porque existia um mundo tão diferente do dela naqueles (proibidos e sujos) livros ocidentais.

Ela presenciou guerras, morte, estupros, fome, miséria, violência de todo tipo. Salvou parentes de campos de refugiados, fugiu da familia pois não queria casar-se com um homem escolhido pelo pai que mal conhecia (e o pai também não o conhecia!) e com o qual não tinha nenhuma afinidade.

Ela fugiu para a Europa, primeiramente para a Alemanha e em seguida para a Holanda. E lá ela conheceu o mundo 'visto' dos livros. Viu que as mulheres andavam sozinhas e descobertas pelas ruas. As mulheres estudavam, trabalhavam, tinham filhos somente se quisessem, e quando quisessem. Escolhiam seus parceiros sexuais, casavam quando bem entendessem. As mulheres eram livres. Não sofriam mutilação sexual.
Ela enfrentou todo o seu mundo, seu pai, seu marido, os sábios do seu clã. Tudo para ter essa liberdade.
Ela cuidou da irmã com problemas mentais. Ela aprendeu a falar holandês, a se comportar como holandesa, conseguiu a cidadadania holandesa. Conseguiu empregos e até a entrar para a faculdade e ase formar em Ciencias Sociais.

Ela não parou mais. Entrou para o Parlamento holandês e descobriu que apesar de oferecerem refúgio e estímulos para famílias muçulmanas, as mulheres sofriam as duras leis do Islã em pleno solo europeu. Que as crianças eram criadas com estímulo à violencia e submissão ao Islã da mesma forma como se estivessem em países islâmicos. Então ela começou a lutar para esse sofrimento acabar. Para que as meninas em território europeu não sofressem mais a mutilação caseira em suas cozinhas. ela queria acabar com as escolas religiosas e modificar a política de apoio ao refugiado. Sua vontade é de amenizar o sofrimento das mulheres no mundo todo. Abrir os olhos ocidentais para esse assunto esquecido.

Ela fez admiradores e inimigos. Seus inimigos do Islã, querem a cabeça dela até hoje, ela vive em carros blindados e cercada por segurança. Mais perseguida ainda depois de um filme, livros, discursos, leis...
Muitos querem calar sua voz, que hoje atualmente continua ajudando as mulheres e combatendo radicalmente o Islamismo. Mas essa voz é tão forte e inteligente que não se calará assim (e nem deve).

Tornei-me fã de verdade dessa brava mulher. Um exemplo para todos, nunca devemos esquecer: homens e mulheres são iguais.
E liberdade é a coisa mais importante desse mundo, liberdade de expressão, de ir e vir. Simples assim.
Leia esse livro com L maiusculo, prepare-se para entrar em choque com seus pensamentos e a enxergar a dura realidade vivida (viver ou sobreviver?) por muitas mulheres nesse mundo.



Ayaan Hirsi Ali (nascida com o nome Ayaan Hirsi Magan a 13 de Novembro de 1969 em Mogadíscio, Somália) é uma política holandesa conhecida pelas suas críticas em relação ao Islã. Foi deputada na Câmara Baixa (Tweeede Kamer) do parlamento holandês pelo Partido Liberal (VVD) entre Janeiro de 2003 e Maio de 2006, altura em que se demitiu do cargo reconhecendo ter mentido no processo de asilo político que lhe concedeu a cidadania holandesa.

O vídeo legendado 'Submissão':

2 comentários:

  1. Nossa, que história poderosa! E perturbadora, chocante, revoltante. Mas também edificante, um exemplo para todos que buscam e apoiam a liberdade individual. Grande resenha.

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  2. Obrigada Andreia. Este realmente é um livro do tipo que nos provoca uma série de sentimentos e pensamentos.

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