sábado, 16 de julho de 2011

Insanas... elas matam

Insanas... elas matam
Resenha de Tânia Souza

Assim que terminei de ler Insanas, lembrei-me de quando a Editora Estronho lançou o convite para seleção dos contos. A proposta? Uma antologia escrita somente por mãos femininas. Mãos que escreveriam o aspecto mais cruel que a mente pudesse vislumbrar. O projeto já me ganhou a partir desse momento. O regulamento deixava claro, os contos deveriam ser escritos por autoras, mas nada obrigava que as personagens fossem femininas, entretanto, as autoras aceitaram o desafio e nesta viagem, o feminino/autora converteu-se/uniu-se, quase predominantemente, ao feminino/personagem. Com exceção de alguns contos que trazem outros protagonistas, são também femininas as mãos, dentes, gestos e mentes ferinos que povoam e temperam com tinta sangue estas páginas.
Insanas, elas escrevem.
E insanas, elas criam vida em cada conto.
Antes de falar sobre os contos, não posso deixar de comentar como é bacana o trabalho de diagramação da Editora Estronho. A capa é lindíssima! Como tenho costume de carregar um livro por onde vou, interessante ver como as pessoas entortam o pescoço e vencem a timidez para perguntar sobre o livro. Parabéns por mais esse belo trabalho.
A maioria dos contos me agradou muito, com exceção de alguns, que apresentaram personagens de crueldade extrema, mas com motivação fraca ou mesmo ausente. Como apreciadora dos gêneros terror e horror, creio que a insanidade/crueldade no literário é bela, principalmente quando bem contextualizada.
Mas como em toda antologia, a diversidade é sempre um ponto a mais, para cada leitor, um ambiente, cenário ou estilo apresenta diferentes sentidos. Do suspense ao gore, Insanas causa efeitos, nunca indiferença: assusta, assombra; causa estranhamento, pena e repulsa. Surpreende. Não vou comentar todos os contos e sim as narrativas que (por um motivo ou outro) mais me chamaram atenção.
Em “O Bem e o Mal” Sandra Franzoso apresenta, essencialmente, uma protagonista descobrindo o prazer e o sabor da crueldade. O estilo escolhido para a narrativa deste conto não me agradou, mas a alternância de ferocidade/doçura/crueldade (extrema) da protagonista prende o leitor.
Em “A Última Oração”, de Tatiana Ruiz, no sombrio século XVIII, fé, religiosidade, solidão e algo tão maligno que parece impossível de se deter são alguns dos temperos dessa narrativa.
Este conto traz para o leitor, diretamente “Do Inferno” a oportunidade de conhecer, intimamente, a mente de um assassino.  Quase cúmplice, o leitor acompanha devaneios, motivações e ações de crueldade extrema de uma criatura complexa e cruel. Conto de Georgette Silen.
A Fazenda, conto de Alma Kazur, desvenda segredos do sertão pernambucano. Uma fazenda é palco para crueldade, pactos, magia, escravidão, passado e presente, tortura, possessão. Não apenas um algoz, mas uma família inteira.
Celly Borges, em Vítimas, com uma narrativa enxuta e ferina, apresenta a luta de jovens amigos pela vida. O mal empresta forma humana, mas sua origem é bem mais antiga.
A Anita de Carolina Mancini é quase cativante em sua solidão e complexidade. Quase. Sensual, confusa, insana, amaldiçoada? A cada cena a protagonista revela uma face e nesse caminho de autoconhecimento, consciência e aceitação, o mal ganha dimensões extremas.
Roberta Nunes, em o “Pecado Original”, apresenta uma sociedade na qual o poder e o governo pertencem às mulheres. As convenções sociais deste universo determinam que, de forma cruel, os pecadores paguem por seus crimes e, quando livres, apenas façam o que devem fazer: servir. Conto diferenciado e com final surpreendente.
Débora Moraes oferece: Quer uma Torrada? Curto, forte e cheio de ritmo. O leitor mal terá tempo de aceitar a torrada. Mas vai ler bom conto. 
O conto de Alícia Azevedo, Memórias, é um dos meus favoritos. O fervilhante Moulin Rouge tem um cantinho especial neste conto, assim como outras cenas e personagens que constroem sutis relações intertextuais. Sedução e crueldade mortal rondam os passos da perigosa e cativante protagonista.
Creio que uma das características mais interessantes nos contos de Insanas é a dualidade, o mal incontrolável e de origem sobrenatural convive pacificamente com a insanidade oriunda da própria mente humana. Entre as motivações, traições, solidão, vingança, opressão. Mas também, apenas o prazer de fazer e sentir o mal. E por este mal, a crueldade não tem limites.
 
Ao leitor, recomendo: não espere por redenções ou sentimentos como a culpa. O prazer da insanidade é levado até as últimas consequências nesse desfile sombrio, pois elas são transgressoras, tristes, sensuais. Podem ser feias ou lindas. Assustadoras, apaixonadas ou vingativas. São cientistas, crianças, bruxas, vampiras. Vítimas e assassinas. Criaturas inomináveis...  ou simplesmente insanas.

Baixe o arquivo para degustação do conto "Tinta Vermelho Sangue", de Bruna Caroline e conheça um pouco mais do universo de Insanas... elas matam

Um comentário:

  1. Confesso que odeio contos.....mas me apaixonei tanto pela capa que quero o livro pra mim....rs

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