terça-feira, 26 de julho de 2011

OS CEM MELHORES CONTOS BRASILEIROS DO SÉCULO - Org. Ítalo Moriconi (Part 5)

“Ao contrário do que foi escolhido nessa antologia, tem sido efervescente nos últimos anos, dentro de algumas universidades, a quantidade de estudos do resgate da literatura de negros, de autoria feminina, de homossexuais e de regiões distantes e esquecidas do Brasil.”

Por Elenilson Nascimento

A literatura ainda exerce algum tipo de papel catalisador na cultura e no espaço público nos dias de hoje, visto os últimos lançamentos de autores considerados “muitos bons”? Esta foi a pergunta que me veio à cabeça depois de ter mergulhado no quinto capítulo sobre os anos 80 da antologia "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi.

Tantas polêmicas foram causadas há tempos atrás no circuito literário, pela agressividade irônica com que alguns desses autores se posicionaram. Se nos anos 80, houve um certo retorno do romance, os contos não deveram nada. Mas é justamente nesta época que saltaram às prateleiras produções como as do maravilhoso Caio Fernando Abreu e Sérgio Sant`Anna, pois, logo a partir do início dos anos 80, verificou-se um começo de “normalização” na vida democrática do país. No entanto, essas condições adversas não serviram para mergulhar o Brasil numa calmaria cultural, muito pelo contrário, os anos 60 e 70 foram de farta produção cultural em todos os setores.

Segundo Moriconi, na apresentação do capítulo: “Forças liberadas desde os anos 60 encontram aqui seu momento paradoxal de clímax e crise. A geração que fez a revolução sexual agora coloca no papel suas histórias. Explode o erotismo feminino. As grandes metrópoles fornecem cenários para as aventuras do corpo. As trocas sociais, no contexto totalmente urbanizado e erotizado, são roteirizadas pela cultura da mídia, cuja língua internacional é o inglês. Emerge a problemática homossexual. Mas a década que começou eufórica termina cética e deprimida por causa da Aids e da crise dos ideais coletivistas. Sensações de fracasso e vazio parecem anunciar um fim de século melancólico”.

Até hoje muitas listinhas andam criticando livros lançados por nomes respeitáveis da nossa ficção e poesia deste período, talvez porque nunca se gritou tanto por liberdade. Senti muita falta nessa antologia de nomes como Sebastião Uchoa Leite, João Gilberto Noll, Nicolás Guillén, além de vários autores que foram imortalizados na coleção de livros da “Série Vaga-Lume”.

Outra coisa que me chamou a atenção nessa antologia “encomendada” foi que desde a década de 50 um problema que permanece vivo até hoje no Brasil: o desequilíbrio em todos os aspectos entre os centros culturais e as regiões mais longínquas do país. Ou seja, aquilo que os “editores” e “críticos” consideram como coisas boas geralmente são produzidos na ponte Rio-São Paulo. Mas, felizmente, ao contrário do que foi escolhido nessa antologia do Moriconi, tem sido efervescente nos últimos anos, dentro de algumas poucas universidades brasileiras, a quantidade de estudos e pesquisas de resgate da literatura de negros, de autoria feminina, de homossexuais, de regiões distantes e esquecidas do Brasil, como Acre, Roraima, Minas Gerais, Bahia e Rondônia, por exemplo. E um grande erro dessa antologia foi não ter feito nenhuma menção para a Carolina Maria de Jesus, uma catadora de papel que viu escritora muito famosa – já resenhamos um livro seu aqui.

E é bem verdade que o Brasil não contempla e nem registra a literatura desses estados, e essa antologia, "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", não é a primeira a omitir muita gente bacana, sem um estudo mais apurado de autores de estados fora do eixo base, desde os tempos mais remotos. A literatura no Brasil, mesmo que ainda bastante inserida numa visão homocêntrica, etnocêntrica e elitista tradicionais, ainda é em escala bem menor que as historiografias anteriores e mesmo posteriores como as obras de Massaud Moisés, José Aderaldo Castello, Luciana Stegagno Picchio e Luiz Roncari.

+ Clique aqui e leia a continuação da Part 5 da resenha – Anos 80 (Roteiros do corpo).

>>> Visite o LITERATURA CLANDESTINA e o COMENDO LIVROS.

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