sexta-feira, 9 de março de 2012

A GRANDE ARTE – Rubem Fonseca


Da primeira vez que li esse livro, a sensação predominante ao terminar a leitura foi de orgulho. Orgulho de que no Brasil tivéssemos um escritor desse quilate, um tipo bem diferente de escritor brasileiro. Pois até então eu estava acostumado aos clássicos brasileiros ou então às alternativas dos autores regionalistas e dos autores de dramas e comédias urbanos.

Tudo muito lindo e maravilhoso, mas quando eu queria um livro daqueles que te fazem virar a noite e ler compulsivamente até chegar à última página, pois bem, acabava invariavelmente recorrendo à literatura estrangeira, principalmente norte-americana. Talvez porque esse tipo de livro é do que daria um filme igualmente eletrizante.

Eu me ressentia um pouco disso, por mais que admirasse a literatura brasileira sentia essa lacuna como uma deficiência. Até que conheci Rubem Fonseca.

Depois desse “A Grande Arte”, li diversos outros do mesmo autor: “O Caso Morel”, “Agosto”, “Bufo & Spalanzani”, “Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos”, além de algumas coletâneas de contos, sempre com uma admiração crescente que me trouxe a férrea convicção: Rubem Fonseca é o cara.

Ele é um desses autores com a rara capacidade de transportar o leitor para o seu mundo próprio, o mundo de Rubem Fonseca, um lugar de fascínio e espanto que espelha a realidade, mas sempre com um algo a mais, um tempero especial: é o toque do mestre.

Nesse universo em particular não podem faltar as mulheres que são lindas como cavalos, os homens que sofrem calados e as situações que são, digamos, insólitas.

E um climão, caramba! Só mesmo lendo um livro dele!

Foi o que fiz e li de novo cada um dos livros do Rubem Fonseca que eu tinha. Por obra de obscuros desígnios já esquecidos ou por mero acaso calhou que o último que eu tinha pra reler fosse também o primeiro de todos, A Grande Arte.

Que livro absurdo!!!

É um absurdo de bem escrito. A impressão que dá é que a cada frase que saiu impressa no livro, noventa e nove outras foram cortadas da narrativa por Fonseca, que exerce com cruel precisão o seu penoso ofício. Cenas de colossais possibilidades dramáticas são contadas em poucas palavras, enquanto o dia a dia é narrado em alegres e eruditos devaneios.

Isso é só para dar uma pista do recheio, mas para quem ainda não leu só tenho mesmo uma coisa a dizer: prove! Experimente ler algo de mestre Rubem.

“Muitos anos antes de Cristo havia na Grécia um poeta que dizia: tenho uma grande arte: eu firo duramente aqueles que me ferem. Minha arte é maior ainda: eu amo aqueles que me amam.”
(Dr. Mandrake, advogado criminalista  e narrador de A Grande Arte)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...