sábado, 10 de março de 2012

OS SANTOS QUE ABALARAM O MUNDO– René Füllöp-Miller


Um livro esplêndido para buscadores de todas as religiões. Instrutivo, edificante, muitas vezes comovente até as lágrimas, um verdadeiro “livro vivo”, no sentido de que trata do verdadeiro e indispensável conhecimento.

A introdução já é uma agradável surpresa, pois antecipa com grande visão muitos debates que somente hoje começam a vir à tona para o grande público, tais como a derrocada da concepção mecanicista do mundo e a nova abordagem surgida com a mecânica quântica. Se é surpreendente encontrar esses temas em uma biografia de santos católicos, mais ainda por se tratar de obra escrita em 1945, apenas nove anos depois da fundação da “nova ciência” a reboque da física quântica.

São cinco as vidas de santo narradas neste livro, cinco histórias totalmente diversas e que acabam por compor um quadro coerente, uma espécie de “mapa” ou “guia” da santidade. A escolha desses cinco santos em particular foi certamente muito feliz e inspirada.


Santo Antão, “o santo da renúncia”, é o primeiro biografado. Nascido no ano de 251, era um jovem fazendeiro quando ouviu o padre ler o evangelho segundo São Mateus: “Se queres ser perfeito, vai vender tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem seguir-Me”. Da palavra para a ação foi um pulo: Antão saiu da igreja, vendeu suas terras e rebanhos e doou tudo aos pobres. E passou os setenta anos seguintes em ascetismo, vivendo como ermitão em cavernas e desertos. Qualquer semelhança com a vida dos ascetas hindus não pode ser mera coincidência!


Santo Agostinho, “o santo da inteligência”, é o segundo. O que chama a atenção, mais que a famosa vida de devassidão e luxúria que Agostinho teve antes de virar santo, foi a sua capacidade de auto-análise. Foi através da rigorosa introspecção que Agostinho chegou a vislumbrar as dimensões incomensuráveis de sua própria alma. Qualquer semelhança com a Raja Yoga não será tampouco uma simples coincidência...


São Francisco, “o santo do amor”, terceira vida exemplar. Uma vida repleta de tanta beleza e percepção divina quanto deve ser possível caber em nosso frágil envoltório humano. A “imitação de Cristo” elevada à sua máxima potência! Faço a ponte com a Bhakti Yoga (união com o divino através da devoção) somente porque cada vez mais me convenço de que realmente “todos os caminhos levam a Roma”, ou seja, todas as religiões são apenas traduções diferentes de uma mesma e única verdade.


Santo Inácio, “o santo da força de vontade”, é o contraponto necessário. Quando recentemente reli “O Príncipe” de Maquiavel, procurei inutilmente pela famosa frase “os fins justificam os meios”. Que surpresa descobrir que ela não é de autoria de Maquiavel, e sim do fundador da ordem dos Jesuítas...


Santa Teresa, “a santa do êxtase”, fecha com chave de ouro esse inesquecível livro. Ao ler sobre a vida dessa santa, que ficou conhecida como “Teresa de Jesus”, fica evidente que buscar Deus é ir ao encontro da verdadeira alegria. Como não se apaixonar pelo bom humor e jovialidade de Santa Teresa? Como ela mesma disse: “Deus nos livre de santos tristes”!

No testemunho de Santa Teresa firmou-se para mim um pensamento que foi sendo engendrado durante a leitura do livro e que completa essa ponte entre o cristianismo e o hinduísmo. Pois também não pode ser só coincidência que exista em sânscrito a palavra “santo”, que quer dizer “devoto”.

E durante a leitura da vida desses seres humanos maravilhosos, que se alçaram a um patamar acima da maioria dos mortais, algo ficou patente: eles foram maravilhosos, sim, mas foram sobretudo humanos. E fiquei pensando se não seria um erro colocá-los em um altar distante e inatingível, como se tratassem de seres inumanos. Imaginei se não seria mais proveitoso considerá-los exemplos de comportamento, metas de ação, modelos de vida, que colocar uma auréola em suas cabeças e contentar-se em rezar para eles.

Pois se pensamos em um “santo” no altar, ele é realmente inatingível, muito distante de nós. Mas se pensamos no “santo” como um “devoto”, alguém que amou a Deus com todo seu coração, nos sentimos inspirados por esse amor e desejosos de sentir a mesma devoção.

Foi Santa Teresa mesma quem confirmou esse ponto de vista, no conselho que dá às Carmelitas Descalças, ordem religiosa fundada por ela:

“Deus vos livre, irmãs, de dizer quando tiverdes feito alguma coisa que não é perfeita: Não somos anjos, não somos santas. Embora não sejamos, é o maior auxílio de Deus acreditar que, com a ajuda de Deus, podemos ser. Desejo ver nesta casa esta espécie de presunção”.

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