Dean R. Koontz é um hábil artesão de histórias. Com meticulosa perícia ele constrói as suas tramas, sempre seguindo uma cartilha que não falha em prender a atenção do leitor. Por ser tão sistemático, às vezes passa a impressão de que suas narrativas são frios produtos de uma linha de montagem, de que não há envolvimento emocional do autor com a história que ele está contando.
Tanto por suas “qualidades” quanto por seus “defeitos” (ambos entre aspas pois são ambos relativos e dependem principalmente de quem lê, do olhar do leitor), Koontz é um escritor especialmente indicado para os interessados em desvendar um pouco mais as artes da escrita. Todos os livros dele que eu li (uns quatro ou cinco até o momento) seguem um mesmo padrão narrativo, onde o sólido exercício da técnica literária substitui os arroubos erráticos de genialidade. Koontz é um bom escritor, um escritor “confiável”, regular. Ele está no negócio de escrever para vender livros, não para revolucionar a literatura.
O gênero escolhido por Koontz, o terror, evidencia ainda mais o seu estilo sólido. Os dois pilares do gênero, Poe e Lovecraft, são também exemplos de irregularidade. Poe era capaz de escrever uma obra-prima ou um pastiche sem sentido, dependendo da cachaça. E Lovecraft era (em minha opinião hem!!!) um adorável “amador”, compensando a falta de recursos literários com uma imaginação prodigiosa e definitivamente doentia. Nada mais distante da regularidade de Koontz.
Dos autores mais modernos, Clive Barker é o que mais parece seguir a cartilha dos antigos mestres, salpicando o gênero do terror com gosmentas porções de criatividade. Já Koontz parece ter optado por seguir trilhas mais seguras, menos arriscadas. Seu estilo lembra principalmente o Stephen King dos últimos tempos, mais apegado a fórmulas e clichês, principalmente à técnica do “estica e puxa”, que é o jeito de contar a história estendendo ao máximo as partes de suspense. Como já comentei em alguma outra resenha, esta é uma técnica perigosa, pois se o autor pesar a mão a leitura deixa de ser instigante e se torna estressante.
Em “Darkfall” a receita de Koontz não desanda e o suspense segue na medida certa, tornando a leitura interessante e atraente. O próprio autor chama a narrativa de “variação de um tema”, que eu entendi como sendo o tema do monstro, mas que os editores acharam mais propício anunciar como o tema da perseguição. Bom, geralmente onde tem monstro tem perseguição, pois ou o monstro está correndo atrás da mocinha ou é a população armada de paus e pedras que corre atrás do monstro...
Por se tratar de um livro de terror, não dá para contar detalhes da trama, pois isso sempre acaba estragando a surpresa, e elas são poucas em “Darkfall”. Uma delas, e das boas, é o fato da história começar “já começada”, uma novidade interessante que deu agilidade à narrativa.
Um livro divertido, um ótimo passatempo e, principalmente, uma excelente oportunidade de aprendizado sobre técnicas de escrita.
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