terça-feira, 1 de maio de 2012

LUA DE INVERNO – Dean Koontz




Acho que foi Stephen King, o mestre moderno do terror, que disse certa vez que Lovecraft era um escritor que valorizava a atmosfera acima de tudo. A tal ponto que ele conseguia acabar com toda a atmosfera de tanto se fixar nela...

Lembrei desse comentário por dois motivos. Primeiro, porque Dean Koontz também teceu comentários sobre outros escritores de fantasia e ficção científica nesse “Lua de Inverno”. Segundo, porque acho que o comentário de King também se aplica a Koontz, ou seja: Dean Koontz é uma espécie de Lovecraft de nossos dias!

Sempre aprendo muito com os livros de Koontz. Ele é do tipo de escritor que segue uma fórmula fixa, então a cada livro dele que leio vou aprendendo um pouco mais da receita, percebendo as vantagens de seu uso e também onde definitivamente não funciona... É uma pena que quanto mais aprendo, menos gosto de seus textos!

Durante a leitura de “Lua de Inverno” uma imagem surgiu com insistência. Acho que escrever um livro de suspense ou terror, de certa forma, é como fazer um strip-tease!

Nos dois casos, a graça maior é justamente a expectativa diante do que vai sendo mostrado, esse jogo que vai se estabelecendo entre o escritor e o leitor ou entre a stripper e sua plateia. Um espetáculo ideal será o que souber dosar bem o suspense e o alívio do suspense, ou seja, a revelação: de uma parte da trama ou de uma parte da anatomia feminina...

Uma beldade que chega, sobe no palco e tira a roupa toda de uma vez certamente não estará fazendo um strip-tease, será apenas “strip” sem “tease”... Por outro lado, uma moçoila que demore tanto para começar a tirar sequer a luva acaba fazendo a plateia cair no sono...

Esse é o principal defeito de Koontz, em minha opinião. Como ele gosta de esticar uma história!!! Cada pequena cena é recheada de detalhes, pensamentos, temores subjetivos dos personagens, tudo visando criar o suspense, mas quando a mão pesa no tempero o resultado vira o contrário do esperado, e a história acaba ficando chata.

Houve um momento da leitura em que um dos personagens estava diante de uma porta. Ele precisava abrir a porta para olhar do outro lado. Quando percebi quantas páginas faltavam para o final do capítulo, pensei: “não acredito que ele vai demorar tanto para fazer o cara abrir a porta”. Mas foi exatamente isso o que aconteceu.

O problema maior dessa estratégia de esticar a história para aumentar o suspense é que tudo depende da força do que será revelado, após tanta enrolação. No caso da história de terror, esse é o momento crucial em que o “monstro” aparece. Em 90% dos casos, esse é um momento de decepção, pois o monstro nunca é tão assustador quanto fomos levados a crer após tanto suspense. Essa é uma deficiência do próprio gênero do terror, creio eu. Pois o medo se alimenta sobretudo do que não se revela, do que permanece na fantasia.

Já dizia Swami Sri Yukteswar: “encare seu medo de frente e ele deixará de perturbá-lo”.

Pois é exatamente isso o que acontece: basta o monstro aparecer e a graça do livro acaba...

Basta dizer que faltavam apenas 10 páginas para terminar a leitura de “Lua de Inverno” e a história estava supostamente no clímax quando fui dormir...

Valeu pelo aprendizado!





Vejo agora que fui muito crítico ao falar desse livro. Confesso que fiquei mordido porque Koontz deu uma esnobada no Arthur C. Clarke (dizendo que ele tem um humanismo ingênuo, do que discordo totalmente). Daí resolvi fazer essa vingancinha rarara!

Já li vários livros do Koontz, o que por si só mostra que é um autor que me fascinou de alguma forma. Acho que em algumas histórias ele acerta melhor a mão. Começo a acreditar que o forte dele são as histórias de suspense (e não de terror, onde entra na receita o ingrediente sobrenatural).

Gostei muito de "Os Estranhos" e "Rios Escuros do Coração", por exemplo.

Desse "Lua de Inverno" eu gostei bastante até a metade, razoavelmente no meio e bem pouco no fim. Mas muito de meu desencanto é talvez com o gênero do terror em si, não exatamente com esse livro.

Cheguei a ficar filosofando sobre o momento da aparição do monstro nas histórias, que passei a ver como um momento até lírico, poético (!!!), pois é quando o monstro se revela em sua fragilidade para o herói (e para o espectador), pois no mesmo instante em que ruge ameaçador já mostra o pescoço pronto para o abate...

Viajei mesmo!!! E por isso valeu demais a leitura desse livro!!!

Mais do que o livro em si, vale a leitura que fazemos dele, né!

É possível ler uma obra-prima e não ser tocado por ela; da mesma forma, é possível crescer e aprender mesmo com um livro do qual não gostamos!

Sobre a história...


Fui ler a contra-capa (raramente leio a contra-capa ou a orelha antes de ler o livro, principalmente em livros de suspense, pois os editores adoram estragar a surpresa para ajudar a vender!) e vi que o que está ali eu considero mesmo spoiler!

Mas dá pra fazer um resuminho:

O livro tem duas tramas, a primeira de suspense e a segunda mais para o terror. A de suspense envolve o policial Jack e sua família em Los Angeles, que sofre grandes transformações depois que Jack é envolvido em um tiroteio em serviço. A segunda trama é a veia principal, a respeito de um rancho isolado em Montana, onde estranhos incidentes começam a acontecer depois que uma luz misteriosa apareceu na mata durante uma "Lua de Inverno" ("Winter Moon").

Bom, pelo que eu falei antes, dá pra saber que tem um monstro em algum lugar né! :)

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