sábado, 16 de junho de 2012

O ABAJUR LILÁS – Plínio Marcos




Sempre considerei Plínio Marcos uma espécie de “herdeiro intelectual” de Nelson Rodrigues, por isso quis aproveitar a oportunidade de lê-lo na sequência de Nelson. Assim pude perceber mais as óbvias semelhanças entre os dois, e também notáveis diferenças.

Assim como Augusto dos Anjos, outro célebre “maldito” e também muito caro a meu coração, Plínio e Nelson são poetas do sombrio, do grotesco, do escatológico. Os dois são movidos pelo apelo estético da feiúra, da tristeza, da maldade. Não pelo amor à feiúra em si: o que os move é a angústia de denunciar o feio no mundo.

Os dois são, principalmente, moralistas! Denunciam o feio porque não o suportam, e com seu grande talento são capazes de transmitir essa angústia em suas peças.

E aí nasce a principal diferença entre os dois. Nelson Rodrigues é principalmente o crítico dos costumes. Plínio Marcos é acima de tudo o reformador social.

Nelson puxa sua plateia pelos cabelos e grita: vejam como o pecado é feio e gosmento!

Plínio chuta a plateia no estômago e brada: vejam como a miséria e feia e abjeta!

Outra diferença forte é que Plínio é absolutamente asfixiante. Não há brechas em suas trevas. Em Nelson, ao menos, encontramos o alívio da tensão em seus momentos de ironia e deboche.


“O Abajur Lilás” é uma peça com cinco personagens: Dilma, Célia e Leninha, prostitutas da boca do lixo, Giro, seu cafetão homossexual e Osvaldo, o segurança brocha e sádico. O título da peça é esse porque no mundo sórdido e cruel descrito pelo autor, um reles objeto de terceira categoria tem mais valor que a vida humana.

Triste, porém verdade.

A edição que li é de 1979 (a peça foi escrita em 1975), e na época “O Abajur Lilás” estava proibido de ser encenado pela censura. Curiosamente, liberaram o texto impresso. Vá entender a infinita burrice da censura!



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