OBJEÇÕES E RESPOSTAS – Descartes
Esse
texto consiste no debate entre Descartes e um tal de R. P. Mersenne, que
recolheu de diversos teólogos e filósofos argumentos contrários às
“Meditações”.
Algo
que fica logo evidente é a disparidade no nível dos debatedores. Pois as
objeções levantadas contra Descartes não são filosóficas, mas apoiam-se na
retórica (sofismo), no melhor dos casos, ou mesmo na ignorância pura e simples.
Bom exemplo disso é quando Mersenne tenta derrubar a evidência de que Deus
existe (porque o maior não pode surgir do menor) afirmando que as moscas surgem
do nada! Estava ainda em voga a teoria da geração espontânea...
Isso me
ensinou uma coisa: é preciso ser um gênio para trazer algo de novo para a
humanidade, mas para criticar não é necessário nenhum talento especial, é coisa
que qualquer um pode fazer.
A
leitura foi muito válida por reforçar os conceitos trabalhados por Descartes em
suas “Meditações”. Eu, que não estava convencido da validade racional de sua
demonstração da existência de Deus, acabei me rendendo incondicionalmente a
ela, pois não consegui de modo algum refutá-la. E mais ainda, creio ter
encontrado uma evidência empírica para sua prova ontológica no fato de que
todas as civilizações humanas conhecidas manifestam em sua cultura algum tipo
de relação com o sagrado. Isso sugere que a ideia de Deus está presente na
essência do homem.
“(...)
toda força de meu argumento consiste em que não poderia ocorrer que a faculdade
de formar essa ideia existisse em mim, se eu não tivesse sido criado por Deus.”
Outra
coisa que chama a atenção é a paciência e elegância de Descartes ao rebater os
argumentos contrários, mesmo os mais sem noção, e até os potencialmente
perigosos, como os que tentam colocar sua filosofia em atrito com as palavras
da Bíblia. Mas chega um ponto em que até a paciência de Jó tem limite:
“Ora,
que há em nós alguma ideia de um ente soberanamente poderoso e perfeito, e
também que a realidade objetiva desta ideia não se encontra em nós, nem formal,
nem eminentemente, isto tornar-se-á manifesto aos que pensarem seriamente no
assunto, e quiserem dar-se ao trabalho de meditá-lo comigo; mas não poderia
enfiá-lo à força no espírito dos que lerem as minhas Meditações apenas como um
romance, para se desenfadar, e sem lhes prestar grande atenção.”
“E não
importa que talvez julgue haver demonstrações para provar que Deus não existe;
pois, como essas pretensas demonstrações são falsas, é sempre possível dar-lhe
a conhecer a sua falsidade; e leva-lo, então, a mudar de opinião.”
RAZÕES – Descartes
RAZÕES
QUE PROVAM A EXISTÊNCIA DE DEUS E A DISTINÇÃO QUE HÁ ENTRE O ESPÍRITO E O CORPO
HUMANO DISPOSTAS DE UMA FORMA GEOMÉTRICA
O
título imponente me fez aguardar com expectativa essa leitura, a célebre
demonstração matemática da existência de Deus!
Mas não
há aqui complexas fórmulas numéricas, nem gráficos mirabolantes. Na verdade,
Descartes seguiu apenas a forma de exposição “dos geômetras”, apresentando suas
proposições em sequência lógica. Fez isso não por iniciativa própria, mas a
pedido dos opositores (e aliados) que queriam ver do que o filósofo era capaz.
Em
resumo, é isso:
“Proposição
primeira:
A
EXISTÊNCIA DE DEUS É CONHECIDA PELA SIMPLES CONSIDERAÇÃO DE SUA NATUREZA”
O que
somou muito nessa leitura foi afinal perceber o que Descartes tanto repete:
essa “conclusão pode ser conhecida sem prova pelos que se acham isentos de
todos os prejuízos”.
Descartes
não “prova” a existência de Deus. Ele demonstra, e quem quiser (e puder) que
entenda.
“Proposição
segunda:
A
EXISTÊNCIA DE DEUS É DEMONSTRADA POR SEUS EFEITOS, PELO SIMPLES FATO DE SUA
IDEIA ESTAR EM NÓS”
“Proposição
terceira:
A
EXISTÊNCIA DE DEUS É AINDA DEMONSTRADA PELO FATO DE NÓS PRÓPRIOS, QUE TEMOS EM
NÓS A IDEIA DE DEUS, EXISTIRMOS”
“Corolário:
DEUS
CRIOU O CÉU E A TERRA, E TUDO O QUE NELES ESTÁ CONTIDO. E, ALÉM DISSO, PODE
FAZER TODAS AS COISAS QUE CONCEBEMOS CLARAMENTE, DA MANEIRA COMO NÓS AS
CONCEBEMOS”
“Proposição
quarta:
O
ESPÍRITO E O CORPO SÃO REALMENTE DISTINTOS”
RESPOSTAS DO AUTOR – Descartes
Dessa
vez foi um tal de Senhor Gassendi que esbanjou sua retórica para tentar pegar
Descartes em alguma contradição. E novamente fica clara a disparidade entre os
dois contedores: de um lado a argumentação sofística, do outro o raciocínio
filosófico.
Eu, que
não tenho muita paciência para debates, li pulando as páginas. Já estava
saciado.
E o
próprio Descartes também dá mostras de que não aguentava mais tanta
aporrinhação de mentes que se esforçam em destruir o trabalho do outro, mas sem
se dar ao trabalho de tentar construir para ver como é que é:
“Eis,
Senhor, tudo o que creio dever responder ao alentado livro das Instâncias,
pois, embora satisfizesse talvez mais aos amigos do autor se refutasse todas as
suas instâncias, uma após a outra, creio que não satisfaria tanto aos meus, que
teriam ocasião de me repreender por ter despendido tempo em uma coisa tão pouco
necessária e por assim tornar senhores de meu lazer todos os que quiserem
perder o seu em propor-me questões inúteis. Mas agradeço-vos pelos vossos cuidados.
Adeus.”
Dá-lhe
René!!!!
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MANIFESTO - Mensageiros do Vento
LEIA AGORA (porque não existe outro momento):
que bosta
ResponderExcluir"a boca fala do que está cheio o coração"
ExcluirKkkk não cara... as objeções são elegantíssimas e forçam Descartes a desenvolver algumas teses que deixam flancos abertos e acabam por minar a sua filosofia! O "tal do Gassendi", por exemplo, é um importante filósofo com quem Descartes trocava correspondências há décadas, e que faz algumas objeções letais a Descartes.. Talvez se você não tivesse lido "pulando páginas" e não tivesse sido tão arrogante ao presumir que as objeções são "retóricas", talvez você pudesse apreciar a boa leitura das Meditações que foi feita pelos objetores, bem como a boa leitura que o Descartes fez dessas objeções! No fundo, o mau leitor só foi você...
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