quarta-feira, 19 de abril de 2017

A.B.C. DE CASTRO ALVES – Jorge Amado


O maior escritor homenageia o maior poeta da Bahia, em um texto apaixonado e apaixonante! Quem já amava Castro Alves, após a leitura de seu ABC terá mais e melhores motivos para considerá-lo um grande gênio da raça! E quem ainda não ama o Poeta da Liberdade, terá aqui uma linda oportunidade de se deixar seduzir pela paixão condoreira!

Acostumado à prosa fluida e lúdica de Jorge, a princípio estranhei tantas e extensas notas de rodapé, com tantos mínimos detalhes. Depois fui entendendo que era o amor a Castro Alves que motivava o desejo pela exatidão histórica e pela minúcia. E foi o mesmo amor desmedido que se manifestou de outra forma para mim surpreendente: em seus arroubos, Jorge Amado não mede palavras e bate forte em alguns nomes como Mário de Andrade, Tobias Barreto e Machado de Assis!

A pinimba com Mário de Andrade fica bem compreensível, pois foi o paulista que implicou primeiro com o baiano, ao fazer uma crítica meio estrambótica a Castro Alves, comparando-o a Fagundes Varela: o autor de Macunaíma desgosta profundamente do fato de um carvalho, na poesia de Castro Alves, se referir a um carvalho, enquanto na de Varela pode ser um carvalho ou uma baraúna, ou um salgueiro... chegando ao ponto de louvar Varela por sempre enfiar uma cachoeira em seus poemas, gerando um “mistério psicológico”, enquanto Castro Alves estaria reduzido a uma “pobre realidade”... Convenhamos que é implicância pura, e por conta disso Mário de Andrade levou uma bela duma espinafrada de Jorge Amado. Merecida, em minha opinião.

Já no caso de Tobias Barreto e, principalmente, de Machado de Assis, penso que a ira de Jorge foi um pouco pesada demais, julgando-os pelo fato de, sendo ambos mestiços, não terem se colocado de forma mais aberta contra a escravidão. Penso que só quem sentiu na pele (literalmente) o racismo que eles sofreram é que pode entender o motivo desta ou daquela atitude.


Outro caso de exageros de amor de Jorge Amado por Castro Alves, esse mais engraçado, é quando o autor do ABC dá um pito daqueles na mulher que foi a última paixão do poeta, pelo simples motivo dela ter se recusado a ceder aos ardentes desejos de Castro Alves, por medo de ficar falada na cidade, perdendo seu status social e com ele seu ganha-pão de professora particular. Jorge fica mesmo retado com a tal fulana por não ter aliviado a barra do poeta! O que na verdade é um recurso de gênio, pois com essa birra Jorge Amado consegue dar uma nota cômica em um momento muito triste da biografia de Castro Alves.

Em resumo, o livro é isso: um gênio falando de outro. Ou seja, um deleite de encher os olhos! Um efeito que eu apreciei particularmente foi o fato de Jorge narrar a história de Castro Alves para sua “amiga” (Zélia Gattai, certamente), dando um toque amoroso e uma narrativa sentimental paralela que muito soma à beleza da narrativa.

Diante de tudo isso, só posso agradecer à Mainha pela dádiva de ter nascido nessa terra de magia e beleza, que viu nascer um Castro Alves e um Jorge Amado, dentre tantos outros espetaculares baianos!


Viva a Bahia! Viva Jorge Amado! Viva Castro Alves!



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ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever para quê? 
Doze escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual, recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
 

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