sexta-feira, 23 de março de 2012

ALÉM DA LUZ E DA SOMBRA – Jean-Yves Leloup

Um dos melhores livros que já li. “Além da Luz e da Sombra – sobre o viver, o morrer e o ser” é a transcrição de uma série de palestras realizadas pelo autor para o Colégio Internacional de Terapeutas, no Brasil, em 1998. Temos, então, um homem religioso, um teólogo e padre da igreja ortodoxa, discursando para um grupo de intelectuais a respeito dos possíveis sentidos para a morte e, por extensão, para a vida. O resultado é uma arrebatadora viagem de eloquência pelas profundezas da alma humana. Leloup fala para a mente e para o coração, com a tranquilidade de um verdadeiro colosso intelectual, com a doçura e o encanto de um grande conhecedor do sentimento humano. Jean-Yves Leloup é um sábio, no sentido mais amplo da palavra.

O “ser diante da morte” é o tema principal das palestras. Para tanto, o autor faz uma inspirada comparação entre o “Bardo Thodol – Livro Tibetano dos Mortos” e o menos conhecido “Ars Moriendi”, obra do século XIV que é também chamada de “Livro Cristão dos Mortos”. Para o Bardo Thodol, a morte é uma possibilidade de iluminação. Na visão cristã, a morte se apresenta como provação. Entre essas duas perspectivas, Leloup tece a sua majestosa teia de significados, e direciona seu lúcido olhar para esse evento crucial da vida, que é a morte ou “mudança de freqüência”.

Dá gosto ver um intelectual tão bem fornido falando com propriedade e segurança sobre a realidade do Espírito. Leloup cita com a mesma fluência Buda, Cristo, Jung e a física quântica, sempre com o gracioso cuidado de não limitar a verdade a um ponto de vista exclusivista. A dimensão humana só torna a leitura ainda mais envolvente. Esse não é o produto gélido de um intelecto sem sentimentos. É um livro vivo, que transborda de emoção a cada parágrafo. Leloup é capaz de falar com a mesma naturalidade de conversas pessoais que teve com o Dalai Lama e de episódios íntimos de sua biografia, como um estupro que sofreu quando era criança. Tudo com o propósito de conduzir o ouvinte (leitor) até o ponto privilegiado de sua visão do mundo e do homem.

O livro continua com uma reflexão belíssima sobre a experiência do “absurdo” e da “graça” e uma análise igualmente bela sobre a história bíblica de Jó. Para ser lido e relido.

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