terça-feira, 26 de junho de 2012

FRANCIS BACON – Coleção Os Pensadores




Francis Bacon foi sem dúvida personagem de importância na história do pensamento ocidental. Foi chamado, dentre outras coisas, de “primeiro dos modernos e último dos antigos”, “inventor do método experimental” e “fundador da ciência moderna e do empirismo”.

Ler esses textos de Bacon foi uma aventura de emoções conflituosas. Em primeiro lugar havia uma imensa expectativa de minha parte, pois há tempos soube de uma hipótese que antes considerava absurda e agora acho estapafúrdia: Shakespeare não teria existido de fato e todas as suas obras teriam sido na verdade escritas por Francis Bacon. Não sei de onde surgiu essa ideia maluca, que li nem lembro onde, mas certamente gerou uma grande curiosidade para ler Bacon diretamente.

Em segundo lugar há um dinamismo e um entusiasmo que transbordam das páginas escritas por Bacon. Ele ocupou uma posição muito peculiar na história, e por isso o seu ponto de vista é muito interessante. Bacon vê a si mesmo como um grande reformador das ciências, um paladino do progresso científico, um arauto de novas e poderosas descobertas. Isso é muito tocante, especialmente quando pensamos que esse novo saber que Bacon proclama é justamente o mecanicismo materialista que está atualmente dando os seus últimos suspiros. Na época de Bacon os intelectuais e pensadores lutavam para livrar o conhecimento do jugo da Igreja e gerar uma nova ciência livre de noções religiosas. Na época de hoje a ciência descobre inusitadas e desconcertantes evidências da espiritualidade (consciência) imanente a tudo e instila nos corações dos visionários o sonho de uma novíssima ciência, que ao lado de uma novíssima religião instaurem finalmente uma era de sabedoria para a humanidade!!!

Li Bacon com o mesmo entusiasmo com que ele escreveu, pois vejo a mim mesmo (e a todos os que buscam essas questões) como um paladino da verdade, assim como Bacon via a si mesmo em seu tempo. Só que o velho templo que almejo destruir foi o novo templo que Bacon sonhou em erguer...

Por outro lado, a leitura foi dificultada pela descoberta de que Bacon pode ter sido um colosso como intelectual e político (chegou ao cargo de chanceler, o mais alto possível em sua época), como ser humano deve ter deixado bastante a desejar. Envolveu-se em corrupção e negociatas, e chegou a ajudar na condenação e execução de um amigo que antes muito o havia ajudado. Traíra, mau caráter e extremamente ambicioso. Não é o tipo de pessoa de quem esperamos retirar bons ensinamentos. Isso foi uma dificuldade que encontrei na leitura, pois acho difícil separar o autor da obra.

Essa edição traz duas obras de Bacon: “Novum Organum” e “Nova Atlântida”.



NOVUM ORGANUM

Essa obra tem algo de panfletária, pois é quase uma exortação de Bacon a favor de uma nova ciência, uma nova maneira de lidar com o conhecimento. Curiosamente, ele foi um grande responsável por esse movimento efetivamente ter acontecido na humanidade, e inclusive foi o inventor de um novo método de investigação da natureza: a indução, que consiste em partir da observação de fatos concretos e daí extrapolar essa observação em leis gerais. Ele também criou um método de pesquisa direta da natureza, as suas famosas tábuas de investigação. Mas nunca chegou a ser um efetivo “cientista”, no sentido de que nunca colocou realmente em prática suas grandiosas teorias.

Algumas de suas ideias são realmente muito poderosas e continuam atraentes até os dias de hoje. A que gostei mais foi o conceito de ídolos, que são noções errôneas que atrapalham o conhecimento da verdade. Bacon distingue quatro tipos de ídolos:

1) Ídolos da tribo: são erros inerentes à própria natureza humana, à “tribo” dos homens. Aqui se enquadram as superstições, por exemplo.

2) Ídolos da caverna: são erros individuais, pois cada pessoa possui a sua própria “caverna” particular que distorce a luz da natureza. São os erros gerados pelas idiossincrasias.

3) Ídolos do foro: são os erros gerados por problemas de linguagem, falhas de comunicação que nascem da ambiguidade das palavras.

4) Ídolos do teatro: erros gerados por sistemas filosóficos falsos.


Achei curioso o fato de Bacon se opor frontalmente aos escolásticos e a Aristóteles. Pois achei seu modo de pensar bem próximo da escolástica, e muitas vezes acho que ele imitou a minúcia exaustiva de Aristóteles em suas descrições (o que certamente também foi uma forte influência para a escolástica).

Em resumo: Bacon foi um precursor, o anunciador de um novo sistema de pensamento que iria dominar a humanidade nos séculos seguintes, mas não chegou a fazer parte dos “novos pensadores” com que ele sonhava. Digamos que Bacon foi o João Batista do mecanicismo materialista...

NOVA ATLÂNTIDA

Esse foi um livro que Bacon deixou inacabado e que foi publicado postumamente. É uma narrativa fictícia de viagem que descreve uma civilização que se mantém à margem do mundo, icógnita, secretamente se dedicando ao culto das ciências e também da Bíblia. É uma obra nitidamente influenciada pela “República” de Platão e pela “Utopia” de Thomas More, no sentido de que é a história de uma civilização idealizada.

Bom, como viajante desses mundos imaginários, posso dizer que achei “Nova Atlântida” mais interessante que a “República”, mas nem de longe se equipara a “Utopia”!

 Cada um tem a cidade imaginária que merece...

8 comentários:

  1. Bacon é simplesmente incrível! Adoro refletir na escrita dele!!!

    Beijo,
    www.estanteseletiva.com

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    1. Ah que bom, querida!
      Eu também gostei de alguns conceitos, filosofia é massa!
      beijo!

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  2. Olá, Fábio. Gosto muito do Bacon. A filosofia é fantástica. Sou professor e sou fã deste tipo de leitura. Fica, aqui, um convite para conhecer meu espaço. Um abraço...

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    1. Oi Maxwell, valeu pelo comentário! Adorei o Sapere Aude, muito interessante!!! Se você faz resenhas de livros também, que tal ser um coautor do blog aqui e vir resenhar conosco? abração!

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  3. muito boa resenha! É sempre importante levar em conta o contecto histórico, ainda mais em se tratando de personagens como Bacon.

    http://theredlilshoes.blogspot.com.br/

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    1. oi Liz, valeu demais viu!
      é verdade, o contexto da época em que o autor viveu é muito importante para entender seu pensamento né!
      beijos

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  4. Olá obrigada pela visita, adorei seu blog já estou seguindo! Beijinhos e um ótimo final de domingo!!

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    1. Oi Jéu, que bom!
      Seja muito bem-vinda em nosso cantinho literário!
      beijos

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