quarta-feira, 25 de julho de 2012

O CASO DA IRMÃ DE OLHOS VERDES – Erle Stanley Gardner


Eu confesso, eu confesso, eu confesso!

Sou um viciado em romances policiais!

Estava imerso em profundas leituras filosóficas, teológicas, literárias, mas senti a necessidade de parar tudo e me deliciar com esse romance-pipoca! E também de ler alguma coisa em inglês, o que há algum tempo eu não fazia.

“The Case of the Green-eyed Sister” é uma bobagem calorica e de pouquíssimo valor nutritivo. Mas diverte! E sacia o vício...

Aqui Perry Mason está às voltas com um caso de chantagem que acaba em assassinato. Como sempre, o caso só é solucionado em pleno tribunal, através de reviravoltas mirabolantes que o advogado esperto tira da cartola na última hora.

Agora ao fazer a resenha estou resistindo a tentação de filosofar sobre a insanidade do sistema jurídico, evidente mesmo numa ficção água com açúcar. Deixa isso pra lá, Fabio. Ao menos por hora.



...

Mas não resisto mesmo rarara!

Vamos filosofar então!

Vou me concentrar apenas na questão literária, para não fugir do tema e gerar polêmicas desnecessárias.

Bom. Durante a leitura de um livro do Ed McBain (resenhado aqui: “Tanto Tempo Sem Ver”) tive um insight que achei interessante. O romance policial pode ser visto como uma metáfora para a busca espiritual ou filosófica. Pois se parte da treva para alcançar a luz, do caos para a ordem, do mistério para a sua elucidação ou “iluminação”. O detetive de romance, portanto, pode ser visto como um filósofo em busca da verdade.

Um panorama bem diferente é apresentado nas aventuras de Perry Mason. Começando pela própria figura do herói.


Mason, o melhor dentre os advogados, não hesita em mentir, trapacear e driblar a lei, desde que esteja agindo no interesse de seu cliente. A única justificativa ética que ele possui para suas ações é que nos romances de Perry Mason o seu cliente é sempre inocente...

As cenas de tribunal são mesmo o maior atrativo da série. E o que vemos é um verdadeiro circo, um espetáculo dramático, onde o advogado e o promotor são os atores que têm como único objetivo convencer o júri e o juiz. Ninguém está buscando a verdade, e sim a eloquência, o convencimento. Nesse romance em particular, os personagens são delineados de forma quase caricata, mas bem expressiva: a polícia (Sargento Holcomb) só quer saber de prender, sem dar importância se está prendendo ou não a pessoa certa. O promotor só quer saber de condenar, idem. E o advogado só quer saber de soltar, ibidem. O juiz é a figura de poder que é necessário paparicar, e todas as testemunhas têm algum interesse subjetivo no resultado do julgamento. Tudo em nome de um bom espetáculo, de uma bela performance. Só não queiram chamar isso de “Justiça”...

Resumindo a ópera: penso que heróis da ficção como Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Jules Maigret são belos exemplos de “detetive socrático”.

Já Perry Mason poderia ser considerado o principal exemplo de “detetive sofista”.


LOGOS versus DOXA

Existem mil maneiras de viajar sobre esse tema. Essa é uma que acho bem divertida!

O romance policial clássico pode ser visto como uma metáfora para a questão primordial da filosofia, que é a busca pela verdade, pelo conhecimento.

Talvez nisso resida essa força que me arrasta como um imã poderoso e me mantém grudado página após página!

Pois qual é o objetivo do detetive do romance policial? Descobrir a verdade!

Por isso todo detetive clássico é um filósofo. Cada um deles tem a sua teoria sobre como o crime (a ignorância) deve ser desvendando. Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Jules Maigret e tantos outros aqui se enquadram.

Esses heróis não são perfeitos, também têm defeitos, são humanos como nós. O que os torna excepcionais é a força e o talento que os impulsiona na busca da verdade. Holmes, Poirot e Maigret amam sobretudo a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade.

Já Perry Mason...

...ele ama sobretudo vencer! Ama defender o seu cliente, que é sempre inocente. Mas ama em primeiro lugar ser mais esperto que os outros, passar a perna nos adversários, deixar o promotor com cara de bobo, as testemunhas desacreditadas, o juiz coçando a cabeça e as mulheres todas prontas a caírem a seus pés. Perry Mason ama ser um bom advogado!

Daí a conclusão: Holmes, Poirot & Cia podem ser considerados detetives “socráticos”, pois são cavaleiros do Logos, defensores da Razão, buscadores da Verdade.

Enquanto Perry Mason é o representante consumado do detetive “sofista”, apologista do homem como a medida de todas as coisas, é o guerreiro de Doxa, o sacerdote da Opinião, o buscador da Eloquência.

Beijos filosóficos!

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