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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O JOGADOR – Dostoievski




O que chama a atenção logo de cara são as circunstâncias em que esse livro foi escrito. Acossado por dívidas de todos os lados, Dostoievski recebeu um adiantamento de um editor inescrupuloso, sob as seguintes condições: ele teria até o dia tal para entregar um livro de tantas páginas, caso contrário os direitos de todas as suas obras iriam para as mãos do tal editor!

Por um motivo ou por outro, Dost foi adiando a tarefa, até faltar pouco mais de um mês para o prazo fatal. Como escrever um livro inteiro em tão pouco tempo? Um amigo aconselhou-lhe contratar os serviços de uma estenografa. Com a ajuda dessa moça de 21 anos, o grande escritor conseguiu cumprir a missão. E ainda ganhou um belo bônus, pois a diligente secretária acabou tornando-se a Sra. Dostoievski!

Por essas circunstâncias, “O Jogador” é uma obra única. Nesse livro vemos um dos escritores mais geniais que a humanidade já produziu em um momento ímpar de sua criação. Imagine a pressão que ele estava sofrendo para acabar o livro a tempo! Um trabalho feito às pressas, sem dúvida, mas com a indelével marca do gênio!

Muito da história foi baseado em fatos biográficos, pois o próprio Dost era um viciado no pano verde dos cassinos... Aliás essa edição que li traz um belo perfil do autor, comentando os episódios mais marcantes de sua vida e de que forma influenciaram sua obra. Gostei da sacação de que Dostoievski se propôs a fazer um retrato da alma russa e, dessa forma, alcançou o universal.

Para quem ainda não leu nada de Dost, “O Jogador” pode ser uma boa apresentação, por se tratar de um romance “leve”, de poucas páginas. Há mais ironia e menos desespero que em “Crime e Castigo” ou “Os Irmãos Karamazov”, por exemplo. Mas há aqui também bastante da marca inconfundível do autor, que é o brilho fenomenal de sua genialidade.

Pois brincando, brincando, mais uma vez Dost mergulha fundo na alma humana. Todo livro desse grande autor russo é um espelho de abismo. Quem estiver disposto, encontrará nessa leitura um retrato de seus próprios vícios. Quem preferir ficar na superfície, encontrará uma leitura ferina e divertida sobre a insensatez humana.


Andreia querida, agradeço essa preciosa leitura!!!



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Aproveito para convidar você a conhecer o meu livro, O SINCRONICÍDIO:

Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI

Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/
 
LEIA AGORA (porque não existe outro momento):

sexta-feira, 6 de abril de 2012

NOITES BRANCAS - Fiódor Dostoiévski


Noite branca é um fenômeno que acontece em determinadas épocas do ano, em regiões próximas aos polos, em que o sol não chega a se por totalmente, criando uma espécie de crepúsculo permanente.

E é durante quatro noites brancas que essa história se desenrola. Enquanto perambula pela cidade de São Petersburgo, um jovem sonhador depara-se com uma bela jovem chorando junto ao cais. Para sua mente romântica, essa é uma imagem que o perturba muitíssimo e ele resolve, contrariando sua natureza extremamente tímida, abordar a moça para oferecer ajuda. A jovem chamada Nastienhka aceita sua companhia, e eles conversam como se fossem velhos amigos; marcam um encontro para a noite seguinte, ocasião em que a jovem irá lhe contar o motivo de sua tristeza.

Esse livro foi escrito antes das obras principais de Dostoievski, como Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov, bem como antes de sua experiência na prisão. O escritor tinha sofrido uma grande desilusão amorosa e tinha contraído dívidas. É uma leitura diferente para quem já conhece um pouco do grande autor.

O personagem (que não sabemos o nome) é alguém tão sonhador e romântico que fico pensando se o autor espelhou-se em si próprio para criá-lo. Os menos românticos talvez achem uma leitura meio melosa. Mas o autor, sempre conhecedor da natureza humana, apenas nos mostra uma faceta que também é muito humana: a do sonho e das ilusões.




domingo, 19 de junho de 2011

Recordações da Casa dos Mortos - Fiódor Dostoiévski


O escritor russo Fiódor Dostoiévski viveu uma terrível experiência pessoal que muito influenciou sua obra. Em 1849 o escritor, juntamente com outros intelectuais, foi preso por participar de um grupo considerado subversivo pelo czar Nicolau I. Preso, foi condenado ao fuzilamento. Na última hora, a notícia: o czar decidiu ser mais “benevolente” e a pena foi transformada em exílio e trabalhos forçados na Sibéria, onde o escritor esteve preso por 4 anos. Da triste experiência, nasceu uma de suas grandes obras: Recordações da casa dos mortos.

O livro é narrado em 1ª pessoa pelo personagem Alieksandr Pietróvitch Gorjantchikov, nobre russo condenado a dez anos de prisão pelo assassinato da esposa. Pelos olhos do personagem, vamos acompanhando a trajetória de alguém privado de sua liberdade: os primeiros dias, suas impressões a respeito daquele mundo tão diferente do que ele estava acostumado, “um mundo regido por estatutos, disciplinas, horários específicos; uma casa para cadáveres vivos, uma vida à margem e homens de vivência muito outra”.

Através do personagem, o escritor narra uma situação que ele próprio deve ter enfrentado: embora condenado como qualquer outro dentro do presídio, Alieksandr não é tratado nunca como um igual. Por ser de origem nobre, é discriminado pelos que vieram do povo, que continuam vendo nele o patrão, o superior. Debocham de sua inépcia para trabalhos pesados, por seus modos educados, pelo chá que ele bebe na prisão. Essa sensação de isolamento é ainda mais angustiante para ele, embora, em alguns momentos, também seja benéfica. Logo no começo do livro, o personagem menciona que, quase pior do que estar privado da liberdade, é a convivência forçada com tantos estranhos o que mais lhe perturba. Promiscuidade é a palavra muito usada pelo personagem para exteriorar essa sensação.

Durante a narrativa, vão surgindo muitos personagens interessantes, que ganham a atenção de Alieksandr durante sua estadia no presídio. Suas histórias, o caráter de cada um, pequenos e grandes detalhes que são uma forma de Dostoievski esmiuçar a alma russa e humana, como um todo. Achei curioso que, embora se interesse muito pelos crimes que outros cometeram, por suas motivações, o crime de Alieksandr nunca é comentado por ele em suas recordações. Por sua índole tão tranquila, chega-se a imaginar se ele não estaria ali por engano, embora o motivo de sua condenação já nos tenha sido revelado logo no começo. Os diários de Alieksandr são encontrados, no começo da história, por outro personagem que o conheceu após o término de sua pena.

Outro fato que achei interessante é como o presídio se transforma em uma imitação da própria vida exterior, em suas relações de amizade e de poder. Relações de camaradagens, assim como grandes ódios, vão se formando; alguns presos usam de pequenas artimanhas para conseguir dinheiro e, com isso, poder comprar coisas: doces feitos na cidade, a vodca contrabandeada no presídio, tudo escondido da administração, claro. E os que não tem nenhum dinheiro tem de se resignar. Alieksandr fala da sensação que o preso experimenta por ter algumas moedas tilintando no bolso: é a sensação de ser um homem livre.

Não sei se a intenção do escritor era fazer alguma espécie de denúncia em relação ao sistema prisional russo (com seus trabalhos forçados e castigos físicos). Acredito que ele estava mais interessado em tratar de outra coisa, daquilo que nos torna tão diferentes de tantos tipos descritos no livro, mas também nos aproxima tanto: o mistério da alma humana. Uma grande obra de um grande escritor.


Sobre o escritor:

Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou em 11 de novembro de 1821 e morreu em São Petersburgo em 09 de fevereiro de 1881. Foi um dos mais importantes escritores russos, bem como da literatura mundial. Em seus livros, a natureza humana, em especial a do povo russo, com seus defeitos, qualidades e angústias foi sempre esmiuçada. Em 1866 publicou Crime e Castigo, um de seus livros mais conhecidos. Os Irmãos Karamazovi, considerada sua obra-prima, foi publicado em 1879. Sofria de epilepsia, cujo primeira manifestação ocorreu durante sua prisão. A doença o acompanharia por toda a vida.

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